Caos em Dili continua apesar da presença de tropas estrangeiras

A confusão começou quando, há três dias, um grupo de 591 soldados se rebelou após ter sido dispensado. Jovens sem qualquer ligação aderiram à revolta

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A violência continua neste domingo em Dili, com casas incendiadas e confrontos nas ruas entre grupos rivais, apesar da presença das tropas internacionais, enquanto cerca de 50 mil pessoas se refugiaram em igrejas e outros locais. Após três dias de enfrentamentos entre o Exército e um grupo de 591 soldados que se rebelaram depois de serem dispensados, gangues de jovens sem qualquer ligação com os militares entraram na confusão e agiram em vários pontos da cidade, destruindo casas, quebrando vitrines e incendiando carros. As forças de paz australianas, malaias e neozelandesas que foram chamadas pelo Governo timorense, não conseguiram até agora controlar a situação e acabar a onda de destruição. O número de refugiados e de evacuados cresce sem parar. O comandante das tropas australianas, Mick Slater, disse em entrevista coletiva que as centenas de refugiados que se encontram em lugares de relevância logística, como o aeroporto, devem voltem para suas casas, para facilitar o trabalho dos soldados. Slater explicou que as tropas, que começaram a desarmar todos os timorenses, não estão conseguindo se concentrar na tarefa de restabelecer a segurança. Os membros das forças de segurança "serão os únicos a portar armas", disse o comandante australiano. Os soldados começaram a confiscar machados, facas e pistolas dos membros dos grupos em conflito. O número de evacuados também aumentou. Mais de 300 estrangeiros foram levados à cidade australiana de Darwin. Dez timorenses feridos gravemente também foram para a Austrália, onde receberão assistência médica. ONU retirou seu pessoal da região A ONU retirou todo o seu pessoal no Timor Leste que não estava envolvido em atividades essenciais. Ficaram no país apenas cerca de 100 funcionários. O Representante Especial da ONU no Timor, Sukehiro Hasegawa, disse em comunicado de imprensa que o pessoal evacuado continuará trabalhando, porém na Austrália. Ele acrescentou que "não está descartada a necessidade de mais forças de segurança se os timorenses não conseguirem resolver suas diferenças". O primeiro-ministro australiano, John Howard, também disse que se for necessário vai enviar mais militares ao país. A Austrália informou hoje que aumentará de 15 para 65 o número de policiais enviados ao país, onde 1.300 soldados australianos (e cerca de 700 membros de apoio) participam da missão internacional com 500 soldados e policiais malaios, 120 neozelandeses e 120 portugueses, O ministro da Defesa australiano, Brendan Nelson, descartou por enquanto uma ocupação permanente mas admitiu que a presença australiana no Timor pode se estender por um longo período. Ele ressaltou que a natureza e o alcance das operações serão decididos em acordo com o Timor Leste e os outros membros da coalizão. John Howard opinou que a presença militar estrangeira vai "estabilizar a situação ainda mais. A responsabilidade da liderança política do país será de tentar curar as feridas que levaram à situação de crise". O governante australiano acrescentou que a Austrália quer "respeitar a independência dos timorenses". "Mas eles precisam assumir as responsabilidades da independência, de forma mais efetiva do que nos últimos anos", ressaltou. O escritório de Mari Alkatiri, primeiro-ministro timorense, anunciou a convocação para amanhã, segunda-feira, de uma reunião com o presidente Xanana Gusmão, para analisar a situação. Depois de três anos sob a administração da ONU, Timor Leste se tornou um Estado soberano em maio de 2002. Mas nasceu também como a nação mais pobre do Sudeste Asiático, traumatizada por 24 anos de ocupação indonésia e por um violento processo de independência.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.