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Capitão pode ter jogado crianças ao mar

Por Agencia Estado
Atualização:

O navio que transporta 250 crianças escravas estaria chegando a Benin, informaram fontes portuárias do país oeste-africano. Segundo uma fonte, a embarcação deveria chegar hoje mesmo ao porto de Cotonu, capital de Benin. Seme fica na fronteira com a Nigéria e a apenas 15 quilômetros de Cotonu. Agências humanitárias em Cotonu, capital comercial de Benin, não excluem a possibilidade de que o capitão do navio "MV Etireno", de bandeira nigeriana, tenha tentado desembarcar clandestinamente as crianças em algum ponto das costas de Guiné Equatorial ou mesmo desfazer-se no mar de sua carga humana com medo de ser preso. Funcionários da Unicef estão preocupados com as condições das crianças a bordo do navio, pois previa-se uma viagem de quatro dias, que já dura duas semanas. Muitas estariam doentes por causa dos maus-tratos e da precária alimentação. "O barco foi visto perto de Malabo. Todos os portos do oeste e do centro da África foram alertados", disse a ministra, sem esclarecer quem detectou o navio, já que Benin não dispõe de seus próprios meios de busca. "Estou preocupada com a situação das crianças a bordo. Pedimos às Nações Unidas e também aos embaixadores dos Estados Unidos e da França (antiga metrópole colonial) ajuda para tentar solucionar o problema." Era cada vez mais improvável que o navio, com o qual não se conseguiu estabelecer nenhum contato desde que ele partiu na quinta-feira de Duala, Camarões, tente chegar ao porto de Cotonou, onde era esperado inicialmente. O MV Etireno partiu há duas semanas de Cotonu, onde, segundo as agências humanitárias, embarcou as crianças para vendê-las em Libreville (Gabão). As autoridades gabonenses não deram autorização para o desembarque e o navio deveria retornar para a capital de Benin. Na volta, tentou atracar em Duala, mas também não conseguiu, pois as autoridades haviam sido alertadas sobre o tráfico das crianças (entre 180 e 250). As crianças, beninenses e togolesas, foram compradas por cerca de US$ 14. Os pais das vítimas, que vivem em situação de extrema pobreza, são convencidos pelos negociantes sem escrúpulos de que em outros países com melhores condições elas seriam beneficiadas com estudo e poderiam encontrar trabalhos bem remunerados. As crianças, com idades entre 8 e 15 anos, no entanto, são revendidos a proprietários de plantações de algodão e cacau por US$ 340 em países como Gabão e Costa do Marfim. A vida dessas crianças, segundo funcionários de agências humanitárias, é insuportável, com duríssimas condições de trabalho não remunerado, de até 12 horas por dia, e uma péssima alimentação. As meninas, em sua grande maioria, são abusadas sexualmente ou exploradas como prostitutas. Segundo a polícia beninense, ordens de busca internacional foram emitidas contra Stanislas Abadtan, um empresário de Benin que atua em Libreville, e dois de seus colaboradores, que supostamente organizaram esta operação de tráfico de crianças. "A busca está centrada principalmente no Gabão e na Nigéria", disse uma fonte policial. O governo de Cotunou também lançou uma ordem internacional de busca e captura do proprietário do navio, seu capitão e a tripulação, que aparentemente são de nacionalidade nigeriana. Apesar dos esforços internacionais para conter o tráfico, a escravidão infantil persiste no oeste e no centro da África, de onde comerciantes de escravos europeus enviaram milhões de pessoas à América entre os séculos 16 e 19.

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