Cardeais dos EUA discutem medidas contra pedófilos

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Por Agencia Estado
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Os 13 cardeais norte-americanos que se reúnem nesta terça e na quarta-feira em Roma com o papa João Paulo II e a alta cúpula do Vaticano para tratar do escândalo dos padres pedófilos vão pedir medidas concretas para resolver o problema e tentar restaurar a credibilidade da Igreja diante dos fiéis, que representam o segundo financiador das obras de caridade da Santa Sé. "Já pedimos perdão e mostramos nosso desgosto diante desses casos terríveis e pelo sofrimento causado. Agora é o momento de decidir o que fazer e como garantir ambientes seguros para as crianças", declarou monsenhor Wilton Gregory, presidente da Conferência Nacional dos Bispos dos Estados Unidos, num concorrido e incomum encontro com a imprensa nesta segunda-feira, na Escola Americana, perto do Vaticano. Os cardeais dos Estados Unidos querem autorização para denunciar à Justiça os sacerdotes acusados de abuso sexual; a atualização do direito canônico e sua adaptaçao às leis do Estado; a uniformidade de comportamento para todas as dioceses, pois há Estados em que a Justiça obriga os padres a denunciar esses crimes. Os prelados querem saber também se é possível expulsar do sacerdócio os padres incriminados e como enfrentar a questão das indenizações, que já atingiram um total de US$ 100 milhões, ameaçando de falência algumas dioceses. O resultado desses dois encontros - a portas fechadas na sala Bolonha do Palácio Apostólico - será a linha política a ser levada para a assembléia do episcopado americano, marcada para 13 de junho em Dallas, onde o problema será discutido novamente. A convocação desse encontro mostra a gravidade da questão e também a força da opinião pública norte-americana. Na avaliação dos analistas vaticanos, o papa já havia feito muito quando passou os casos de abusos sexuais para a custódia da Congregação para a Doutrina da Fé, acelerando e centralizando os processos. E foi eficaz a veemente condenação desse tipo de crime que fez na carta aos sacerdotes durante a Semana Santa. E não é só nos EUA que os escândalos sexuais estão abalando a imagem da Igreja. Na Polônia, terra natal de João Paulo II, um arcebispo renunciou ao cargo, acusado de abusar sexualmente de vários seminaristas. Na Alemanha, um bispo deixou o cargo depois que uma professora o acusou de abuso. Há casos de pedofilia também envolvendo sacerdotes do Brasil e do México. No início deste mês, na Irlanda, o bispo Brendan Comiskey, de Ferns, renunciou depois de ter sido criticado pela forma como lidou com as acusações de abuso sexual feitas a um padre que se suicidou em 1999, quando enfrentava 66 acusações de pedofilia. Além dos 13 americanos, participam das reuniões homens-chave do Vaticano, como os cardeais Angelo Sodano, secretário de Estado; Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Giovanni Battista Re, prefeito da Congregaçao para os Bispos; Dario Castrillon Hoyos, da Congregação para o Clero; Zenon Grocholewski, da Congregação para a Educação Católica; e monsenhor Julian Herranz, presidente do Pontifício Conselho para os Textos Religiosos. Estarão presentes também os três cardeais norte-americanos de cúria: William Baum, Edmund Szoka e James Francis Stafford. "Não sei qual é a intenção do Vaticano ao promover o encontro entre os cardeais e os chefes de cinco congregações, mas tenho uma visão otimista. Quanto mais pessoas se interessarem pelo problema, maior será o benefício para a Igreja", declarou Gregory. Ele disse não acreditar que temas como homossexualismo e celibato entrem na pauta de discussão. O caso do cardeal Law também não deverá ser discutido, na opinião do arcebispo de Washington Theodor McCarrick, que falou aos jornalistas na Praça de São Pedro. "Ele deve decidir o que fazer, ver os erros que cometeu e corrigi-los. Penso que devemos dar a ele um voto de confiança."

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