Cartes tenta fazer do Paraguai um modelo na região

Com economia em rápido crescimento, novo presidente quer usar energia abundante e mão de obra barata para impulsionar o país

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Por Lisandra Paraguassu e ASSUNÇÃO
Atualização:

O presidente do Paraguai, Horácio Cartes, assumiu o posto com a certeza de que poderá transformar seu país no próximo caso de prosperidade latino-americana. A projeção de um crescimento este ano de 12,5%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), mão de obra barata e energia abundante entusiasmam o novo governo paraguaio.

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Já no primeiro dia após a posse de Cartes, Assunção afirmou que pretende fazer um investimento de US$ 10 bilhões em infraestrutura nos próximos cinco anos. Desses recursos, US$ 5,6 bilhões deverão ser investidos em estrutura de transportes, incluindo estradas, aeroportos e hidrovias nos rios Paraguai e Paraná, por onde passam 80% do comércio exterior paraguaio. Outros US$ 2,6 bilhões serão para dotar o país de linhas de transmissão e permitir o uso da energia de Itaipu e também de Yaciretã, hidrelétrica construída com a Argentina. O restante seria investido em água potável e saneamento.

"Um dos maiores desafios é a infraestrutura física. Vias de acesso, distribuição de energia, comunicações. Não há como se pensar em avanços sem isso", afirma Fernando Masi, diretor do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia.

Apesar de ser dono de metade de uma das maiores hidrelétricas do mundo, o Paraguai só consegue usar 9% da energia produzida em Itaipu. Uma linha de transmissão que será inaugurada em outubro permitirá dobrar esse uso, mas será preciso antes investir em distribuição para o interior do país.

Cartes aposta nessa energia limpa, farta e barata - quase sem encargos, custa muito menos do que no Brasil - para atrair empresas. Masi, no entanto, lembra que um dos atrativos principais, a mão de obra barata, pode ser o principal benefício imediato.

"O maior problema que temos, sem dúvida, é a educação. Precisamos ter mais pessoas com ensino médio e também mexer nos conteúdos, na qualidade. Não é difícil qualificar mão de obra, mas é necessário investimento", afirmou. Em um país onde a pobreza atinge quase metade da população e a pobreza extrema, 29%, programas sociais semelhantes ao Bolsa Família foram criados no governo de Fernando Lugo e hoje alcançam 120 mil famílias.

Além da pobreza e da falta de infraestrutura, Cartes tem nas mãos outro desafio, o de tirar do Paraguai a imagem de país atrasado, burocrático e corrupto. "Muitas coisas poderão vir de fora. Tecnologia, investimentos. No entanto, a decisão de ser um país sério, crível, previsível, terá de vir dos paraguaios", disse.

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O analista político e ex-senador do Partido Liberal, Gonzalo Quintana, afirma que Cartes tem a grande oportunidade de iniciar um processo de reforma do setor público, aproveitando o crescimento econômico, mas que isso poderá ser "dramático". "Há uma apropriação do Estado por parte dos governos para se manter no poder que precisa ser rompida. Se não houver uma mudança de gestão, o país terminará em paralisia total", afirmou. "Se conseguir pôr o governo a serviço do Estado, Cartes entrará para a história como o fundador do Estado paraguaio moderno."

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