WASHINGTON - ACasa Branca tomou medidas nos últimos dois anos para impedir que detalhes de telefonemas entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e líderes mundiais viessem a público, em meio à aceleração das investigações do impeachment do republicano.
Os democratas, que controlam a Câmara, esperam que o processo dure no máximo um mês e as primeiras audiências comecem já na semana que vem para determinar quais irregularidades Trump cometeu ao pressionar o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, a investigar o pré-candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, em um telefonema em julho.
A preocupação dos principais aliados de Trump com suas conversas com líderes mundiais não é nova. Desde o começo do governo, vazamentos à imprensa de detalhes embaraçosos de conversas de Trump com outros líderes provocaram a ira do presidente. O resultado foi a criação de um clima de paranoia entre seus aliados mais próximos.
Desde 2017, o número de assessores com permissão de acesso a linhas seguras caiu. A lista de membros do gabinete com acesso a memorandos sobre os telefonemas também foi restringido.
O número de cópias de registros dos telefonemas enviados a outras agências diminuiu e ganhou o selo de “só para leitura, e não cópias”, segundo fontes da Casa Branca que não podem se identificar por não poderem discutir abertamente a questão.
Em 2018, a Casa Branca pediu que o Pentágono devolvesse cópias de registros dos telefonemas, com medo de que eles fossem vazados à imprensa.
A denúncia anônima que revelou o conteúdo do telefonema entre Trump e Zelenski jogou uma nova luz nessas práticas dos assessores do presidente. Após liberar a divulgação do conteúdo da conversa, Trump voltou a acusar seus colaboradores mais próximos de tramar algo contra ele.
“Quero saber quem é a pessoa que deu essa informação para a fonte anônima”, queixou-se o presidente na quinta-feira. “Sabe o que se fazia nos velhos tempos com espiões e traições? Lidávamos com isso de uma maneira um pouco diferente do que fazemos hoje.”
Segundo a denúncia, Trump pressionou Zelenski para investigar Biden e os negócios de seu filho Hunter Biden na Ucrânia. O presidente também pediu que o ucraniano colaborasse com o secretário de Justiça William Barr e o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, para lidar com o caso.
O conteúdo do telefonema, ainda de acordo com a denúncia, fez com que a equipe jurídica da Casa Branca agisse para ocultar o que foi discutido entre Trump e Zelenski. A transcrição foi incluída em um sistema separado destinado a guardar informações sensíveis e segredos de Estado – o que não era o caso do telefonema, segundo uma fonte da Casa Branca.
Mais de 300 ex-funcionários de segurança nacional e política externa dos EUA assinaram um comunicado alertando que as ações do presidente Trump em relação à Ucrânia causam "profunda preocupação e ameaçam a segurança nacional". / WASHINGTON POST