Casa Branca diz que recuo do Iraque é apenas "tático"

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Por Agencia Estado
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Numa surpreendente reviravolta em sua posição, o Iraque aceitou incondicionalmente na noite desta segunda-feira o retorno dos inspetores de armas da Organização das Nações Unidas (ONU) para "acabar com qualquer dúvida" de que o país possua ainda alguma arma de destruição em massa?, informou a nação árabe numa carta enviada ao secretário-geral da entidade, Kofi Annan. "O governo da República do Iraque baseou sua decisão concernente ao retorno dos inspetores em seu desejo de concluir a implementação de relevantes resoluções do Conselho de Segurança e para acabar com qualquer dúvida de que o Iraque ainda possua armas de destruição em massa", dizia a carta. A Casa Branca, porém, tentou minimizar a importância da carta, qualificando-a como "uma tática do Iraque, na esperança de evitar uma dura ação do Conselho de Segurança da ONU". "Como tal, esta é uma tática que fracassará", informou a Casa Branca por meio de um comunicado. "Não se trata de uma questão de inspeções. Trata-se do desmantelamento das armas de destruição em massa e do cumprimento de todas as outras resoluções do Conselho de Segurança por parte do regime iraquiano", disse Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca. O ministro iraquiano das Relações Exteriores, Naji Sabri, entregou a carta a Annan, responsável pelo anúncio da impressionante reviravolta na posição de Bagdá sobre o assunto. Na carta, o Iraque pede aos membros do Conselho de Segurança que "respeitem a soberania, a integridade territorial e a independência política do Iraque". A carta diz ainda que o Iraque está respondendo a um apelo anterior feito por Annan para que Bagdá cumpra as resoluções do Conselho de Segurança que pedem acesso irrestrito aos inspetores e a um outro apelo feito pela Liga Árabe e por outros países islâmicos. Annan repassou a carta a todos os 15 membros do Conselho de Segurança e ao chefe da equipe de inspetores de armas, Hans Blix. Não está claro quando o conselho se reunirá para discutir o teor da carta. "Posso afirmar a vocês que recebi uma carta enviada pelas autoridades iraquianas confirmando sua decisão de permitir o retorno dos inspetores sem condições para que eles continuem com seu trabalho", declarou Annan. "Há boas notícias", comentara Naji Sabri momentos antes. Sabri e o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, reuniram-se com Annan na noite desta segunda e entregaram a ele uma carta do governo iraquiano sobre a questão dos inspetores. "Repassei a carta ao Conselho de Segurança e agora seus membros decidirão qual será o próximo passo. É claro que o senhor Blix e sua equipe estarão prontos para retomar seu trabalho", disse Annan, referindo-se ao chefe da equipe de inspetores de armas, Hans Blix. O secretário-geral da ONU não respondeu às perguntas dos jornalistas. Em Bagdá, a imprensa estatal nada informou sobre a carta iraquiana, negociada após uma reunião entre o presidente Saddam Hussein, a cúpula do partido governista Baath e seu gabinete de ministros. Em Washington, o governo Bush exigiu um decreto da ONU que esclareça que a organização aplicará as 16 resoluções desobedecidas por Bagdá, disse McClellan. O comunicado não menciona em nenhum momento a insistência norte-americana para que o Iraque permita que os inspetores visitem qualquer local do país no momento em que bem desejarem. A Casa Branca exigiu "uma nova e eficiente resolução do Conselho de Segurança da ONU que tratará adequadamente da ameaça representada por Saddam Hussein ao povo iraquiano, à região e ao mundo". Sob condição de anonimato, uma fonte ligada ao governo norte-americano disse que a carta não surpreende a administração devido ao padrão histórico de concessões de última hora e porque funcionários do governo Bush já tinham indícios de que o Iraque preparava a declaração. A Casa Branca quer a inclusão de três itens na resolução: uma lista das violações iraquianas a resoluções anteriores; o que o Iraque precisa fazer; e conseqüências não especificadas com as quais o Iraque terá de lidar se não cumprir as exigências. Segundo a fonte, a nova oferta iraquiana não atende às exigências norte-americanas. A surpreendente reviravolta na posição iraquiana ocorre após quatro anos de impasse e poucos dias após o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ter discursado perante a Assembléia-Geral da ONU e dito que o Iraque precisa obedecer às resoluções do Conselho de Segurança ou enfrentar as conseqüências. "Acredito que o discurso do presidente tenha galvanizado a comunidade internacional", comentou Annan. Segundo Annan, a Liga Árabe desempenhou um importante papel ao orquestrar a resposta iraquiana. Annan agradeceu ao egípcio Moussa "por seus esforços estenuantes para ajudar a convencer o Iraque a permitir o retorno dos inspetores". De acordo com resoluções do Conselho de Segurança da ONU, as sanções impostas ao Iraque após a invasão do Kuwait, em 1990, não poderão ser levantadas até que os inspetores da entidade certifiquem que todas as suas armas de destruição em massa tenham sido destruídas. Os inspetores deixaram o país em dezembro de 1998, pouco antes de uma série de ataques aéreos promovidos por Estados Unidos e Grã-Bretanha para punir o Iraque por este não ter cooperado com os inspetores. Desde então, o Iraque passou a rejeitar a autorização para o retorno dos inspetores. O impasse dividiu China, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Rússia - os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, únicos com poder de veto nas decisões da entidade.

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