BUENOS AIRES - A possibilidade de um promotor indiciar a presidente Cristina Kirchner, com base na acusação feita por seu colega Alberto Nisman quatro dias antes de morrer, levou a Casa Rosada a denunciar nesta sexta-feira, 13, "golpismo judicial". A informação de que o promotor Gerardo Pollicita considera a hipótese levantada por Nisman válida e levará adiante as acusações contra a líder argentina foi divulgada pelo jornal Clarín, cujo grupo é pressionado pelo governo kirchnerista a se desmembrar.
O promotor encontrado com um disparo na cabeça em seu banheiro no dia 18 acusou a presidente, o chanceler Héctor Timerman e dirigentes kirchneristas de proteger altos funcionários iranianos que, para a Justiça argentina, estiveram envolvidos no atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), onde morreram 85 e se feriram mais de 300. O encobrimento estaria relacionado a um pacto comercial entre o Irã e a Argentina, que envolveria troca de petróleo por grãos.
"(O indiciamento) Não tem valor jurídico nenhum, mas o efeito seria estrepitoso. Por isso questiono o promotor (Pollicita), porque é uma clara manobra de desestabilização antidemocrática", disse o porta-voz Aníbal Fernández, que completou: "Se minha mãe escuta isso, que não sabe nada de direito, o que entende é 'a presidente envolvida nisso'". Em um sinal de que a hipótese de indiciamento da presidente é forte, o porta-voz da presidência, Jorge Capitanich, também se manifestou. "É golpismo judicial ativo. O único objetivo é gerar impacto político", afirmou.
Nesta sexta-feira, será divulgada a composição do grupo que substituirá Nisman na investigação do atentado. Uma nova visita de peritos será feita no apartamento do promotor no bairro de Puerto Madero.