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Casamentos em massa são atração na China

Mas o governo adverte que manterá a política de "um casal, um filho"

Por Agencia Estado
Atualização:

O casamento se tornou um dos programas preferidos dos chineses neste feriado prolongado de sete dias do primeiro de maio. Apenas em Shanghai, cerca de 30 mil casais deverão se unir no melhor estilo conto de fadas até o próximo domingo. De acordo com a Administração Municipal de Assuntos Civis, os 19 centros de registro civil enfrentam uma alta de 33% no número de uniões frente ao mesmo período de 2005. Em meio à onda de casamentos, no entanto, o governo subiu o tom da retórica voltada contra os empresários, celebridades e autoridades que desrespeitam a lei do filho único. "Eles não têm nenhum privilégio e devem ser penalizados", afirmou Zhang Weiing, diretor da Comissão Nacional de População e Planejamento Familiar. As crenças populares são as principais responsáveis pelo dilúvio de casamentos em 2006. O calendário lunar prevê um período de 385 dias neste Ano do Cachorro, o 11º primeiro do zodíaco chinês. Além de o animal ser considerado como dócil e fiel, dizem os folcloristas, há um mês extra entre o sétimo e o oitavo mês e dois "lichuns" - dia que assinala a chegada da primavera. "São os melhores presságios para as uniões matrimoniais", esclarece o professor Bai Gengsheng, vice-presidente da Chinese Folk Literature and Art Association (CFLAA). No embalo do feriadão, a "semana das noivas" está deixando em polvorosa joalherias, bufês, hotéis, locadoras de veículos e agências de viagens. Limusines escoltadas por uma infindável fila de carros batedores estão em voga entre os jovens de classe média. A locação de um Rolls-Royce por cerca de três horas, por exemplo, subiu de US$ 550 para US$ 700. "Lei da oferta e procura de mercado", sentencia Xue Bailing, gerente de uma locadora em Shanghai, a capital financeira da China. O governo afirma que as uniões matrimoniais movimentaram US$ 31,5 bilhões no ano passado, valor correspondente a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. "Os negócios do setor devem crescer entre 13% e 18% em 2006", anuncia a imprensa local. Mas, enquanto muitos dos jovens casais descem do altar pensando em ter o tão sonhado bebê já em 2007 - o virtuoso Ano do Porco, segundo o zodíaco chinês - o governo afirma, sem especificar as medidas, que vai punir aqueles que violam os princípios de um "um casal, um filho". O recado parece ter endereço certo. "As pesadas multas financeiras não conseguem inibir os ricos e poderosos", comenta a agência de notícias Xinhua. Quase três décadas depois de sua adoção, o controle da natalidade ainda é objeto de grandes controvérsias no país mais populoso do planeta. A maioria dos chineses, no fundo, vê as restrições impostas à gravidez como uma grande privação aos seus milenares preceitos familiares. Pequim diz que o programa é absolutamente necessário para desarmar a "bomba demográfica". A China detém apenas 7% das terras agriculturáveis do mundo, mas concentra cerca de 22% de sua população. Conforme as autoridades, a campanha "controlar o crescimento da população e elevar a qualidade de vida do povo" evitou o nascimento de 400 milhões de pessoas ao longo deste período. O país registra atualmente o índice de 1,8 filho por mãe, contra os seis filhos por mãe observados no começo dos anos 70, disse Zhang. Entretanto, Zhang parece estar de olho em outra questão ao declarar que "todas as pessoas são iguais perante a lei" e ao reconhecer que a administração do programa "enfrenta algumas deficiências". As notícias de que um número cada vez maior de "privilegiados" estão burlando o rígido controle de natalidade e acentuam uma forte percepção já existente entre os chineses mais pobres: a de que o fosso que os separa dos compatriotas mais ricos é cada vez maior.

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