Castillo nomeia esquerdista moderado para cargo de ministro da Economia no Peru

Pedro Francke havia enviado sinais de tranquilidade ao mercado durante a campanha

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Por Redação
Atualização:

LIMA - O novo presidente do Peru, o esquerdista Pedro Castillo, empossou o economista Pedro Francke como ministro da Economia na noite desta sexta-feira, 31, um dia após nomear seu gabinete.

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O anúncio vem após um vendaval no mercado, que permaneceu tenso ao longo da sexta-feira, enquanto os investidores aguardavam ansiosamente a escolha de Castillo para o cargo. A Bolsa de Valores de Lima caiu quase 6% e o dólar ultrapassou quatro soles pela primeira vez.

Francke, de 60 anos, é considerado um tecnocrata e foi economista do Banco Mundial. Durante a campanha, atuou como principal assessor econômico de Castillo. Em entrevistas, descartou nacionalizações e garantiu que a economia seria orientada ao mercado, tranquilizando agentes econômicos que temiam uma guinada abrupta ao socialismo após três décadas de políticas liberais.

“Por um progresso sustentado e uma vida boa, por oportunidades iguais sem distinção de gênero, por democracia e consenso nacional, sim, eu juro”, declarou Francke ao ser empossado.

Pedro Francke, novo ministro da Economia peruano, é considerado um tecnocrata Foto: Alberto Orbegoso/Peruvian Government via AFP

Junto com Francke, Castillo empossou o advogado Aníbal Torres, 79, como ministro da Justiça.

Durante semanas, presumiu-se que Francke seria escolhido para o cargo. Na quinta-feira, no entanto, o economista deixou a cerimônia de posse do gabinete de Castillo minutos antes do início. O governo não explicou por que Francke não prestou juramento na quinta-feira, mas analistas e a mídia local especulam que o motivo pode ter sido a escolha de Guido Bellido, um radical, para o cargo de chefe dos ministros.

"O governo do presidente Castillo deu mostras de fraqueza e lutas internas, aumentando a incerteza que já vinha do segundo turno", disse à Agência France-Presse o economista Jorge González Izquierdo.

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O novo presidente tem o desafio de reativar uma economia duramente atingida pela pandemia, que afundou 11,12% em 2020, bem como acabar com as convulsões políticas e confrontos entre poderes, que levaram o país a ter três presidentes em novembro de 2020.

Ala dura

Castillo desafiou seus oponentes políticos na quinta-feira e surpreendeu grande parte de seus compatriotas ao nomear seu gabinete de ministros, presidido por Bellido, representante da ala dura do partido Peru Libre.

Entre as figuras mais reconhecidas empossadas na quinta-feira, estão a vice-presidente Dina Boluarte, que tomou posse como ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social, o sociólogo Héctor Béjar, ministro das Relações Exteriores, e o médico Hernando Zeballos, ministro da Saúde.

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O baixo número de mulheres também surpreendeu. Apenas duas foram nomeadas -- Boluarte e a socióloga Anahí Durand, que assume a pasta de Mulheres e Populações Vulneráveis.

A nomeação de Bellido foi rejeitada pela maioria das bancadas parlamentares, incluindo grupos esquerdistas e liberais, que o consideram incapaz de gerar confiança ou consenso no país. A escolha fez com que Castilloenfrentasse uma crise governamental apenas um dia depois de assumir a direção do Estado, tendo que atrasar em quase três horas a prestação de juramento de ministros em meio a uma onda de especulações e críticas.

O Partido Roxo, do ex-presidente peruano Francisco Sagasti, exigiu que o Congresso "não confie no gabinete", afirmando que o primeiro-ministro é "uma pessoa que não credencia a democracia”.

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Bellido, um engenheiro eletrônico de 41 anos, é membro do círculo mais próximo de Vladimir Cerrón, fundador do Peru Libre, que cumpre uma pena suspensa de quatro anos (sem ir para a prisão) por crimes de corrupção. Bellido enfrenta uma investigação preliminar do Ministério Público por suposta apologia ao terrorismo, após a divulgação de um vídeo em que ele aparece dizendo ser difícil definir membros do grupo subversivo Sendero Luminoso como “terroristas”. A nomeação de Bellido ainda deve ser aprovada pelo Congresso./AFP, EFE e REUTERS

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