Católicos serão os mais "perigosos" em Gênova

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Por Agencia Estado
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Os mais perigosos entre os 120 mil manifestantes esperados neste fim de semana em Gênova para a reunião de cúpula do G-8 não serão necessariamente os anarquistas, os libertários dos "macacões brancos" (Tute Bianche), os trotskistas. Talvez serão os católicos. Com certeza, os jovens católicos não estarão na primeira fila nas provocações e distúrbios de rua, nos coquetéis molotov. Mas, em razão de seu número, de seu fervor, da autoridade moral conferida por Deus, a Igreja e o papa João Paulo II, eles terão com certeza uma força de ataque espiritual provavelmente mais mortífera do que as granadas dos arruaceiros. Desde esta quarta, foi possível perceber a diferença destes dois tipos de contestatários: por um lado, a polícia de Gênova procurava cabos de enxada, bolas de aço, atiradeiras, estilingues e cartas-bomba. Por outro lado, em Gênova, mas também em outras cidades italianas, multiplicavam-se os jejuns, as vigílias de orações, as concentrações, os abaixo-assinados. Os "papa-boys" - como seu nome o indica - têm como seu "poderoso chefão" o próprio papa João Paulo II em pessoa, que os exortou recentemente a serem "os sentinelas da manhã". E eles afirmam que são apoiados pelas mais altas instâncias católicas, em particular a Conferência Episcopal Italiana. No encerramento da recente reunião da conferência, o cardeal Tettamanzi exortou os jovens a "garantir os direitos dos mais fracos". A Assembléia Episcopal entrou nessa luta com toda decisão e energia. Escolheu como modelos quatro homens de prestígio indiscutível: Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Jacques Maritain e João Paulo II. E, acima de tudo, adotou esta fórmula contundente: "Esta globalização é o novo nome do colonialismo." Trata-se de um momento capital - a vinculação entre o colonialismo e a globalização. Outrora, freqüentemente um jovem europeu entrava na política e se filiava às alas mais extremistas, através do canal do anticolonialismo. Os adolescentes, indignados pelo que sabiam a respeito da Índia, do Vietnã, do Congo belga, da Argélia francesa ou do Senegal, lançavam-se à batalha contra o colonialismo e depois tentavam reformar toda a sociedade burguesa e ocidental. No final da década de 60, todas as colônias foram finalmente emancipadas e os jovens se viram desconcertados. Não tinham mais uma causa clara, evidente, (o anticolonialismo) pelo qual lutar. Lançaram-se então aos exageros extremistas um pouco ao acaso, como por exemplo, os movimentos generosos, mas desordenados, de 1968. Em resumo, o sentimento de revolta dos jovens persistiu, mas não se sabia mais onde extravasar este sentimento. Hoje, porém - e são os textos católicos italianos que o proclamam -, uma nova causa vem tomar o lugar do antigo anticolonialismo, como numa corrida de revezamento: é a antiglobalização. Contudo, como no tempo das cruzadas anticolonialistas, é preciso distinguir agora, entre os adversários da globalização, duas grandes famílias: por uma parte, os grupos sérios, responsáveis, os moralistas, e, por outra, aqueles que ontem utilizavam o anticolonialismo e hoje usam a antiglobalização como um simples "bode expiatório", um instrumento para arrombar as portas de toda sociedade policiada, para fomentar o caos, a revolução. Em Gênova, estes dois estilos de contestação estão lado a lado uma vez mais; de um lado, os "macacões brancos" (Tute Bianche), com seus inumeráveis e terríveis satélites. De outro, os jovens - católicos ou não - que desejam apenas impedir a anarquia da globalização e de seus efeitos devastadores sobre os pobres e os fracos (tanto em nível mundial quanto em nível de cada país). Os católicos fazem parte desta segunda categoria antiglobalização. Entretanto, não se deve acreditar que as organizações mais responsáveis estejam dando provas de indiferença ou de resignação. Ao contrário, às vezes, elas são mais eficazes do que os extremistas oficiais. Por exemplo, a associação (não-governamental) francesa Attac, que defende o Imposto Tobin, reprova todos os movimentos de rua. Mas a Attac não deixa de mostrar uma virulência igualmente notável, a virulência da "esquerda moral", ou da "esquerda social", não a dos esquerdistas alucinados que outrora produziram esses rapazes suicidas das Brigadas Vermelhas ou do grupo Baader Meinhof.

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