Cavallo declara ter raiva de De la Rúa

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Por Agencia Estado
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O ex-ministro da Economia Domingo Cavallo declarou que o ex-presidente Fernando de la Rúa o "entregou" para renunciar "duas horas depois". Cavallo, o polêmico e impopular ex-ministro que comandou a política econômica do país durante turbulentos nove meses, referia-se à renúncia de seu cargo, que conheceu por meio da televisão, na quinta-feira de madrugada. "Eu não renunciei. Me renunciaram e ainda por cima, sem me avisar", lamentou o ex-ministro, que admitiu: "isso me deu muita raiva". Cavallo, que fez as declarações à revista "Gente" desde um lugar cuja localização é sigilosa, afirmou que após a notícia da renúncia, De la Rúa tentou tranqüilizá-lo: "fica tranqüilo, Mingo (diminutivo de Domingo), amanhã cedo a gente conversa". Mas o "amanhã" nunca aconteceu. Nas horas seguintes, o próprio De la Rúa estava renunciando, depois de uma batalha campal entre manifestantes e a polícia em pleno centro de Buenos Aires, o que causou sete mortos. Cavallo afirmou que sua gestão foi correta e que não compreendia a reação popular: "não posso acreditar em tudo o que aconteceu. Tenho certeza que fiz tudo que tinha que fazer, a cada momento. Fiquei impressionado pela reação das pessoas, que saíram às ruas para o panelaço". Depósitos - Em relação ao semi-congelamento de depósitos implementado por ele próprio no dia 3 de dezembro, e que causou a ira popular, o ministro analisou: "sabia que as pessoas, sem dinheiro, ficam malucas. Mas não tinha outra saída, já que se não fosse assim, a corrida aos bancos nos teria levado para o desastre. Além disso, nenhum dos grandes analistas questiona o que fiz". Sobre seu futuro, Cavallo foi lacônico: "agora não penso nisso". Mas aproveitou para deixar um recado de que se encontra à disposição para mais uma vez ocupar-se dos destinos econômicos do país: "estarei sempre disposto para ajudar meu país no que precisar". Cavallo estaria desde a sexta-feira em uma fazenda na Patagônia, no sul do país, acompanhado pela sua esposa Sônia. O ex-ministro estaria próximo à cidade de Chapelco, onde desembarcou proveniente de Buenos Aires em um avião particular. Existem várias especulações sobre a fazenda na qual Cavallo estaria hospedado para passar as festas natalinas. Uma das fazendas especuladas é a "La Primavera", do magnata da TV americana, Ted Turner. Prisão - O ex-ministro não pode sair do país por causa de uma ordem judicial emitida pelo juiz federal Julio Speroni. Segundo o juiz Cavallo está envolvido no processo de contrabando de armas para a Croácia e Equador entre 1991 e 1995, e por isso terá que permanecer em território argentino. O ex-assessor para Assuntos Legais e Técnicos do ministério da Economia, Alfredo CastaÏón, disse que está preocupado pela segurança de Cavallo. "O coitado do Mingo está sendo um bode expiatório", em alusão à crise econômica que causou a queda do governo De la Rúa. Enquanto Cavallo passa os últimos dias do turbulento 2001 ao sopé da Cordilheira dos Andes, o ex-presidente De la Rúa deixou a residência oficial de Olivos e descansa em sua chácara particular, na Grande Buenos Aires. Ironicamente, a chácara chama-se "La Esperanza" (A Esperança). Leia o especial

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