Cavallo descarta incluir o real em cesta de moedas

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Por Agencia Estado
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O real não está nos planos futuros de uma eventual cesta de moedas que a Argentina poderia vir a adotar a médio prazo. Essa informação foi feita em entrevista exclusiva ao Estado e à Agência Estado em Buenos Aires pelo ministro da Economia deste país, Domingo Cavallo. "Nunca vamos incluir o real em uma cesta de moedas enquanto o real não for uma moeda conversível, porque vocês têm hoje uma administração monetária muito responsável, conduzida por Armínio Fraga, mas nada garante que, em algum momento, o Banco Central do Brasil utilize a política monetária para desvalorizar as poupanças e os salários dos brasileiros", disse o ministro. De acordo com Cavallo, no Brasil as pessoas não têm a possibilidade de escolher outra moeda, "nem ter depósitos em uma moeda como o dólar ou o peso argentino". Segundo ele, se os argentinos tivessem que "incluir o real em uma eventual cesta de moedas, contagiaríamos o peso com a ´inconversibilidade´. Isso é algo de que os argentinos não perdoariam o governo. Mas, se algum dia o real for conversível, é evidente que deveria estar nessa cesta de moedas". No entanto, para o "pai da conversibilidade", este não é o momento para adotar uma cesta de moedas composta pelo dólar, euro e o iene. De acordo com o ministro, o euro está muito valorizado, e isso não é conveniente, pois valorizaria mais ainda a moeda argentina. A Argentina somente passaria a considerar a possibilidade de implementar a cesta de moedas quando o euro estiver mais próximo da paridade com o dólar. Em relação às críticas feitas por Cavallo na sexta-feira ao mercado brasileiro, o ministro disse com certa ironia que o único propósito dele foi "evitar que os especuladores percam muito dinheiro apostando em uma desvalorização do peso", que, segundo o ministro, não acontecerá. De acordo com ele, os investidores brasileiros vêm pagando prêmios muito altos há vários meses para cobrir-se de uma suposta desvalorização do peso argentino. "Eu fico preocupado que eles percam muito dinheiro", ironizou. Cavallo atacou financistas, empresários, "opinadores de economia" e jornalistas que "inexoravelmente" apostam no fim da conversibilidade e ainda o comparam com a crise do Plano Real, que acabou desvalorizando a moeda brasileira em janeiro de 1999. "A conversibilidade é uma coisa totalmente diferente ao Plano Real. Na Argentina temos a livre escolha da moeda. Se desconfiarmos do peso, podemos fazer depósitos em dólares, euros ou em qualquer outra moeda. E mudar o valor do peso significaria fazê-lo desaparecer. Os argentinos não perdoariam o governo disso nunca, além de ser ilegal", ponderou. Sobre a recessão argentina, que se estende há 33 meses, o ministro disse que a expectativa e o humor dos argentinos melhorou muito nas últimas semanas. "O setor privado sabe que estamos trabalhando todos os dias para aumentar os investimentos, além de incentivar a produtividade". Mercosul - O ministro criticou alguns setores da economia ao dizer que "falar, se fala muito, mas o que é necessário é mais ação". Ele afirmou que novas medidas econômicas serão anunciadas nas próximas semanas e meses gradativamente. Cavallo criticou os mercados financeiros pelas reações intempestivas do dia a dia, provocando uma forte volatilidade nas taxas de juros e no preço dos títulos públicos. "Os mercados financeiros estavam acostumados a ouvir dos ministros da economia o que eles queriam ouvir, mesmo coisas erradas. Mas, como eu não falo nesses termos, eles ficam nervosos. Mas esse tema não me preocupa, porque a realidade vai se impor e os mercados financeiros vão ter que apostar no crescimento e na estabilidade da economia argentina", afirmou. A coordenação macro-econômica do Mercosul, que foi colocada em andamento em dezembro do ano passado com a assinatura da declaração de Florianópolis, não está na agenda imediata do ministro . "Ainda não me ocupei do tema." Indagado sobre uma eventual aproximação da Argentina com os EUA, que poderia incluir um acordo bilateral de livre comércio, deixando de fora outros parceiros do Mercosul, Cavallo disse que "seria negligente que os sócios do Mercosul não avaliem cuidadosamente os prós e os contras (possíveis benefícios e custos) de uma negociação bilateral". Cavallo afirmou que, em primeiro lugar, deveria ser feita uma negociação no esquema quatro mais um (os quatro membros do Mercosul mais os Estados Unidos). "Se algum país não estiver disposto, então, a negociação poderia ser feita no esquema três mais um". E em último lugar, "quando o resto estiver descartado, haveria sentido em uma negociação um mais um". Cavallo também referiu-se com cautela à proposta do governo da Venezuela de que este país possa integrar o Mercosul: "ainda não analisamos esse tema, mas eu sempre disse que o Mercosul deveria buscar uma projeção sul-americana". Há anos que Cavallo vem prometendo que será candidato nas eleições presidenciais de 2003. Analistas sustentam que se o ministro conseguir reativar a economia, seria um fortíssimo presidenciável. No entanto, o ministro descartou que esteja pensando nesse assunto agora. "Neste momento, a única coisa em que penso é a economia."

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