Cavallo fala mal do Mercosul nos EUA

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Por Agencia Estado
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Empenhado em ganhar o apoio dos investidores internacionais para o programa de estabilização da Argentina às vésperas do lançamento de uma crucial oferta de bônus para alongar o perfil da dívida externa do país, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, transformou o Mercosul no alvo preferencial de críticas em sua campanha para angariar simpatias nos Estados Unidos. Em discurso a uma platéia de estudantes e professores da Escola de Direito da Universidade de Harvard, neste sábado, Cavallo afirmou que "da forma como está funcionando hoje, o Mercosul não ajuda as nossas economias". Cavallo ressalvou que falava "como intelectual" e usou essa condição fictícia para dar a união aduaneira como praticamente morta. Segundo ele, o Mercosul foi "politicamente benéfico" para a Argentina, porque ajudou a introduzir a idéia da liberalização comercial no país. Mas o ministro voltou a condenar a criação da tarifa externa comum e disse que a única maneira de resgatar o Mercosul da crise atual é por sua transformação num "verdadeira" zona de livre comércio na América do Sul. "Se eu pudesse decidir pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai diria: ok, negociemos juntos, mas seguindo a estratégia chilena", afirmou, aludindo à decisão recente do Chile de buscar um acordo bilateral de livre comércio com os EUA. Para Cavallo, a Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, "é uma boa marca, mas só vai produzir ações se os países usarem a estratégia chilena". Já o Mercosul, "talvez seja uma boa marca para o futuro da região, talvez não". Cavallo reuniu-se neste domingo com banqueiros e investidores em Nova York e falará nesta segunda-feira na conferência anual do Conselho das Américas, no departamento de Estado, em Washington. A insistência do chefe da equipe econômica argentina em realçar diferenças com o Brasil e sinalizar a simpatia da Argentina com as posições dos Estados Unidos em questões de política comercial sugere uma vez mais a disposição de Buenos Aires de buscar um caminho próprio com os Estados Unidos e poderá contribuir para dar o tom à conferência do Conselho das Américas - um evento no qual o Brasil correria o risco de ficar na defensiva mesmo se Cavallo não comparecesse. A conferência, de dois dias, terá discursos do presidente George W. Bush, do secretário de Estado, Colin Powell, do Tesouro, Paul O´Neill, do Comércio, Donald Evanse, e do representante de Comércio da Casa Branca (USTR), Robert B. Zoellick. Em contraste com o México e a Argentina, o Brasil não tem representante do governo na lista de oradores. O único brasileiro escalado para falar é Maurício Botelho, o presidente da Embraer. Bush e os porta-vozes de seu governo deverão reiterar que a Alca e a aproximação com os países do hemisfério são prioridades para a administração americana. A conferência será também a primeira oportunidade para Washington comentar os resultados da Cúpula de Québec e, em particular, o discurso no qual o presidente Fernando Henrique Cardoso explicou com franqueza a ambivalência do Brasil perante a Alca e apresentou a lista dos temas que o Brasil quer ver negociados para que a área de livre comércio seja efetiva. Existe, também, expectativa de que os americanos usarão o encontro para responder a um par de gestos brasileiros na semana passada que não caíram bem em Washington. Um deles foi o voto do Brasil na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, que, embora não tenha sido decidido em função de um desejo de excluir os EUA desse fórum, conforme explicação dada por diplomatas brasileiros, ajudou a produzir esse resultado. O outro foi a dura reação do ministro da Saúde, José Serra, aos comentários feitos por um relatório do USTR, na semana passada, sobre a ação que os EUA movem na Organização Mundial de Comércio sobre a legalidade do mecanismo de licença compulsória da lei de patentes brasileira. O relatório afirma que o País estaria usando seu bem sucedido programa contra a aids para justificar práticas protecionistas. "Não entendemos o tom da reação do ministro, pois não fizemos um ataque pessoal, mas apenas divulgamos um papel reiterando posições que já eram conhecidas pelo governo brasileiro sobre um tema que caberá à OMC decidir", disse um porta-voz do USTR.

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