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Cavallo, impetuoso, incomoda De la Rúa

Por Agencia Estado
Atualização:

A política externa argentina é determinada pelo presidente Fernando De la Rúa e conduzida pelo Ministério de Relações Exteriores, disse à Agência Estado uma alta fonte do governo, ao comentar o impacto negativo das constantes declarações do ministro Domingo Cavallo sobre o Mercosul desde que assumiu o Ministério de Economia do país, ao final do mês passado. Além de ter chamado recentemente a Tarifa Externa Comum (TEC) de "palhaçada" e ter qualificado esse instrumento da união aduaneira do bloco regional como "mecanismo obsoleto do protecionismo", Cavallo tem insinuado ainda que o mercado financeiro brasileiro especula constantemente contra a conversibilidade e que a Argentina preferiria aproximar-se dos Estados Unidos por meio de uma negociação bilateral. Essas declarações não só provocaram sérios constrangimentos ao presidente De la Rúa, desgaste nas relações diplomáticas com o Brasil e com os outros dois parceiros no Mercosul, como também um certo pânico no Itamaraty diante da possibilidade desses comentários provocarem o "rompimento" da Argentina com o bloco, justamente no momento em que começam a ser definidas as linhas básicas de negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Embora os governos brasileiro e argentino tenham tentado atenuar o "efeito Cavallo", os mercados dos dois países reagiram de forma negativa, interpretando o fato, mais uma vez, como o "fim do Mercosul". Desde que desembarcou, nesta quinta-feira, na cidade de Quebec, onde está sendo realizada a 3ª reunião de cúpula da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o presidente argentino não consegue evitar um bombardeio de perguntas e insinuações de jornalistas sobre quem realmente "manda" na Argentina. "O presidente já pediu ao ministro Cavallo para evitar dar declarações sobre a política externa argentina, principalmente se elas têm como base opiniões extremamente pessoais", confidenciou essa fonte à AE. O certo é que ninguém consegue segurar o ministro e muito menos fazê-lo calar. Cavallo, queiram ou não reconhecer os próprios membros do governo De la Rúa, conquistou poderes até para "ditar regras e boas práticas" de como negociar com seus principais parceiros comerciais. Nas últimas semanas, o chanceler argentino, Adalberto Giavarini, outro homem forte no gabinete de De la Rúa, tem cumprido o papel de "bombeiro" para apagar os incêndios provocados por Cavallo, não só externamente como também no próprio país. Logo depois que assumiu o Ministério de Economia, por exemplo, chegou-se a cogitar em Buenos Aires que a Divisão de Relações Econômicas Internacionais, hoje presidida por Horacio Chighizola, ficaria sob responsabilidade de Cavallo. A idéia de deixar a economia e as relações externas do país nas mãos de Cavallo, porém, não agradou muito ao presidente De la Rúa, até porque Giavarini conta com apoio muito importante dentro da União Cívica Radical (UCR), um dos partidos da Aliança. Por isso, explicou a fonte do governo argentino, o chanceler tem preferido ficar longe do tiroteio provocado pelo superministro e agir mais nos bastidores para apagar os incêndios. Foi Giavarini, por exemplo, quem sugeriu a viagem relâmpago que os dois ministros fizeram a Brasília para explicar as medidas sobre a redução da TEC para bens de capital e o aumento da alíquota de importação para bens de consumo. Desde então, entretanto, Giavarini e Cavallo não têm sido mais visto juntos. Até o início desta semana, por exemplo, a participação do ministro Domingo Cavallo na reunião de cúpula da Alca estava praticamente assegurada, conforme a fonte do governo argentino. Mas a última hora foi decidida a presença do vice-ministro de Economia e secretário de Finanças, Daniel Marx, que se encontrava em Washington. Cavallo, que participou de seminários e encontros em Londres entre quinta e sexta-feira, teve de retornar para Buenos Aires, onde sua chegada estava prevista para a manhã deste sábado.

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