Cavallo não fez desvalorização encoberta, dizem argentinos

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Por Agencia Estado
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Os economistas argentinos não consideram que a alta das tarifas alfandegárias para a importação de bens de capital seja uma "desvalorização encoberta", como muitos economistas brasileiros sugerem. A alta das tarifas para 35% foi determinada no fim de semana pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo, e estão em vigor desde esta quarta-feira. Para o economista-chefe da Fundação Capital, Martín Redrado, a opinião de que seria uma desvalorização encoberta "é uma visão parcial das medidas". Segundo ele, o plano de Cavallo é atacar os problemas da economia nos fronts orçamentário e fiscal. Neste último, o ministro aplicará uma redução dos custos das empresas através da política alfandegária, com o aumento nas tarifas de bens de consumo. Segundo Redrado, "não é desvalorização porque melhorará os custos, melhorando o câmbio real sem tocar no câmbio nominal. Lamentavelmente, muitos economistas brasileiros pensam que a saída da Argentina é mexer no câmbio". O economista Raúl Ochoa disse ao Estado que quando se modificam as tarifas para importação, modifica-se o câmbio real. Ochoa considera que "para um setor importante da economia será como se fosse uma modificação do tipo de câmbio". No entanto, segundo o economista, o Mercosul continua tendo sua preferência alfandegária, e por isso o efeito de modificação do câmbio será somente parcial. "Esta medida não tem efeitos de desvalorização no sentido estrito, mas é uma grande ajuda a estes setores". O aumento nas tarifas para bens de consumo causou protestos em setores da economia argentina que se consideram atingidos pelas medidas. É o caso da Câmara de Industriais de Projetos de bens de Capital (Cipibic), cujo presidente, Manuel Escobar, afirmou que a medida "significará a morte do setor metal-mecânico". Abelardo Lago, presidente da Afmha, a associação de fabricantes de máquinas-ferramenta, sustenta que em 1991 com a abertura da economia argentina, o mesmo Cavallo, então ministro, "causou a extinção de 50% de nosso setor. Com esta nova medida, liquidará o que resta". Entre os bens de capital que passaram a ter tarifas 0% estão caldeiras a vapor, turbinas hidráulicas, máquinas colheitadeiras, tornos mecânicos, caldeiras de vapor, gruas, equipamentos de computação, máquinas para o conserto de calçados e locomotivas. Os setores atingidos sustentam que, mais do que protecionismo, o que Cavallo fez foi provocar uma maior abertura do mercado argentino. Como medida protecionista, Cavallo decidiu aumentar as tarifas para bens de consumo para 35%. Segundo a resolução número 8, que determinou esse aumento, a medida tem o objetivo de "salvaguardar o normal desenvolvimento produtivo em alguns setores agredidos pelos fluxos de importação de produtos em condições que provocam graves distorções no mercado interno". No entanto, os setores "agredidos" incluem o champagne, caviar, presunto cru, mariscos e chá. Além disso, há setores que constantemente pediam proteção, como têxteis, calçados e brinquedos.

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