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Cavallo não quer que Mercosul discuta tarifas

Por Agencia Estado
Atualização:

?Ficar discutindo tarifas externas do Mercosul é uma perda de tempo?. A polêmica afirmação foi feita pelo ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, que sustentou que o bloco comercial precisa ocupar-se mais seriamente em integrar a área de serviços, os mercados de capitais, a infra-estrutura e transporte, entre outros. Segundo Cavallo, ?o Mercosul é muito importante para somente pensar que ele é a Tarifa Externa Comum (TEC)?. A declaração de Cavallo ocorreu nesta sexta-feira, durante a apresentação de seu último livro ?Pasión de crear? (?A paixão de criar?). A obra ? a sexta publicada nos 54 anos de vida do ?pai da conversibilidade? ? foi preparada em forma de entrevista em fevereiro, quando a presença de Cavallo no ministério da Economia era somente uma especulação delirante, e é um amplo panorama do pensamento econômico e político do homem que nas últimas semanas foi convocado pelo governo como ?salvador da pátria?. Na apresentação do livro, Cavallo insistiu em que seria mais adequado para o Mercosul tornar-se uma área de livre comércio e não uma união alfandegária. Além disso, propôs que o Mercosul expanda o livre comércio para o resto da América do Sul. Mas, segundo Cavallo, estas idéias que estão no livro sobre o bloco comercial não poderão ser aplicadas: ?Isto eu escrevi antes de ser ministro. Os brasileiros podem ficar tranqüilos de que a Argentina manterá seus compromissos internacionais?, disse. E acrescentou: ?Mas estimularei a discussão destas idéias?. Fontes diplomáticas afirmaram ao Estado que, antes do lançamento, Cavallo fez uma visita especial: passou pela residência do embaixador do Brasil em Buenos Aires, Sebastião do Rego Barros, para entregar-lhe pessoalmente um exemplar. No encontro, Cavallo afirmou que o Brasil e a Argentina precisam estar juntos na negociação sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O ministro também disse que espera uma solução rápida para o conflito fitossanitário entre os dois países causado pela aftosa. Além disso, o ministro fez longos elogios ao presidente FHC, o único estadista estrangeiro que cita com destaque no livro. Em sua obra, Cavallo relata como o presidente brasileiro lhe causou grande ?impacto?. Cavallo elogiou ?o sistema de cobranças e pagamentos excelente do Brasil? e disse que deveria ser expandido para toda a América do Sul. O ministro declarou que se o Mercosul não oferecer possibilidades de crescimento para os jovens da região, eles irão embora: ?Se não criarmos condições aqui, eles partirão para Miami?. Coincidentemente, o filho do presidente Fernando De la Rúa, Antonio, foi embora para Miami, onde instalou uma empresa de comunicação. O ministro também falou sobre a possibilidade de que no futuro a Argentina adote uma cesta de moedas ?com moedas limpas de expectativas inflacionárias?. O ministro considera que deve ser uma moeda ?sem desvalorizações?. Para ele, ?o peso não necessita estar somente amarrado ao dólar, mas também ao euro, e ter um valor fixo em relação a estas várias moedas. Isso não significará desvalorizar. Somente quando possamos ter uma taxa de juros menor que as das outras grandes moedas, é que poderemos deixar o peso flutuar?. Cavallo aproveitou para disparar sarcasmos contra o ex?presidente Carlos Menem, que nos últimos dias voltou a pregar a dolarização da economia argentina: ?É um retrocesso mental pensar que o próximo passo para a economia do país é a dolarização?. Segundo ele, ?o futuro da Argentina não está em mais dolarização, mas em mais ?eurorização? ou ? yenização??. Sugerindo um futuro mais ambicioso para o peso, disse: ?E talvez no futuro, um tipo de moeda assim possa ser a moeda do Mercosul?. No livro, Cavallo também relata ?casos? de sua infância transcorrida na pequena cidade de San Francisco, na província de Córdoba. De brinde ao leitor, Cavallo explica como ?construir? uma vassoura, produto fabricado na época por seu pai. Em sua equipe, sustentam que o hiperativo ministro já prepara uma nova obra, com tons sociais, onde se defenderá das acusações de que ele é o responsável do crescimento da pobreza no país. Coincidentemente, minutos após a apresentação do livro de Cavallo no Hotel Marriot Plaza, o ex?ministro da Economia, Ricardo López Murphy, passava caminhando pela porta do edifício. Taciturno, preferiu não emitir opiniões sobre o livro de seu sucessor. O ministro está com a popularidade em alta: segundo pesquisa Gallup, 58% dos argentinos consideram que o ministro poderá retirar o país da crise. Somente 38% afirmam que ele não vencerá a recessão que abala a Argentina há trinta meses. Dos pesquisados, 46% concordaram com a concessão de poderes especiais para que Cavallo reative a economia e combata a evasão fiscal. No entanto, 80% pedem ao ministro que não abandone de forma alguma a conversibilidade econômica. O presidente Fernando De la Rúa não está bem cotado: somente 12% consideram que ele poderia fazer algo para sair da crise, e 63% afirmam que ele não tem capacidade alguma para isso.

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