Cem russos são detidos em manifestação oposicionista

Ato pretendia denunciar a violação das liberdades fundamentais pelo Kremlin, além de protestar contra a reforma da lei eleitoral que priva os russos de eleições livres

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Por Agencia Estado
Atualização:

Mais de 100 militantes de oposição e ativistas foram detidos neste sábado na cidade russa de Nizhni Novgorod, 400 quilômetros a leste de Moscou, antes e durante uma manifestação não-autorizada convocada pela oposição democrática. "A polícia prendeu muitos militantes diretamente nos trens e ônibus", denunciou Olga Kurnosova, porta-voz da Frente Civil Unida (FCU), liderada pelo ex-enxadrista Gary Kasparov, à emissora de rádio Eco de Moscou. Os prisioneiros, que pretendiam participar da "Marcha dos Dissidentes", como são conhecidos os atos de protesto convocados pelos democratas russos, foram transferidos a um pavilhão de esportes, onde são vigiados pela polícia. Na praça Gorki, onde deveria acontecer a manifestação, foram detidos 20 dissidentes, que tinham descido de um ônibus com cartazes que criticavam os funcionários por ficarem com 50% do Orçamento destinado à cidade. "Fascistas", gritaram alguns dos detidos, enquanto um policial advertia por meio de um megafone que o protesto era ilegal e que seus participantes poderiam sofrer ações administrativas e penais, segundo o jornal digital Gazeta.ru. O porta-voz do Ministério do Interior, Alexander Gorbato, calcula que cerca de 30 pessoas foram detidas na praça por tentarem se manifestar apesar das advertências feitas pela polícia. O vice-governador de Nizhni Novgorod, Serguei Potapov, acusou os organizadores da marcha de fazerem "provocações", já que havia sido proposto outro lugar para o protesto, longe do centro da cidade, mas a oferta foi rejeitada. Segundo a Eco de Moscou, vários efetivos antidistúrbios e do Ministério do Interior isolam a praça. Todos os estabelecimentos comerciais no caminho da praça Gorki permanecem fechados neste sábado, incluindo o McDonald´s, muito popular na cidade. Entre os presos está uma das assessoras de Kasparov na FCU, Marina Litvinovich, que denunciou que foi detida assim que chegou à cidade em seu carro particular e que seus documentos foram confiscados. Na estrada que conduz à cidade, as forças de segurança também detiveram um ônibus com militantes de um movimento de oposição, e conduziram o motorista à delegacia, segundo o coordenador da organização, Oleg Kozlovskii. Vários dos militantes que tentaram seguir o caminho a pé foram detidos nos arredores de Nizhni Novgorod. Também foram presos um jornalista da agência de notícias britânica Reuters e o fotógrafo do jornal The New York Times, mas ambos foram soltos quando mostraram suas credenciais. As casas de vários dos organizadores da manifestação foram bloqueadas pela polícia local e suas linhas telefônicas foram cortadas. Segundo a agência Interfax, as autoridades deram início a ações penais contra dois dos organizadores da marcha com base em um artigo do Código Penal russo que prevê penas de prisão por terrorismo. Milhares de militantes da oposição e ativistas de direitos humanos participaram das duas primeiras marchas dos dissidentes, em dezembro, em Moscou, e no mês passado, em São Petersburgo, onde a polícia tentou, sem êxito, dissolver a manifestação. Ao contrário das outras duas ocasiões, o protesto em Nizhni Novgorod não contou com a participação de Kasparov nem do escritor Eduard Limonov, líder do Partido Nacional Bolchevique. O ex-primeiro-ministro Mikhail Kasianov, líder do partido de oposição União Democrática Popular, também não compareceu. Não se sabe em qual cidade será realizada a próxima marcha, que pretende denunciar a violação dos direitos e das liberdades fundamentais pelo Kremlin, além de protestar contra a reforma da lei eleitoral que priva os russos de eleições livres.

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