Cenário: Ação turca no conflito sírio pode mudar

Se for confirmado que o atirador era ligado a jihadistas sírios, apoio a rebeldes pode se tornar complicado

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Por Karabekir Akkoyunlu
Atualização:

O assassinato do embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, pode mudar a relação do país com o conflito sírio e a Rússia. Tudo depende de quem os dois lados, Ancara e Moscou, culparem pelo ataque. Se o atirador for considerado ligado a grupos jihadistas sírios – afinal, ele gritava ‘não esqueçam Alepo, não esqueçam a Síria’ – isso pode tornar a posição da Turquia como partidária dos rebeldes sírios ainda mais complicada.

Mas, horas após o ataque, a mídia pró-governo turco começou a afirmar que o atirador, um agente de polícia, poderia ser afiliado ao movimento gulenista, ou seja, os habituais suspeitos do governo ultimamente. Se essa teoria se tornar a principal, pode não haver mudanças na Síria, a não ser o estreitamento dos laços turcos com o Ocidente e a maior proximidade do presidente Recep Tayyip Erdogan com o líder russo Vladimir Putin.

Atirador aponta sua pistola para as outras pessoas que acompanhavam o discurso do embaixador russo; de acordo com as agências internacionais, pelo menos três outras pessoas foram feridas no ataque Foto: AP Photo/Burhan Ozbilici

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Ainda dependendo de quem será publicamente responsabilizado pelo ataque, pode haver alguma retaliação da Rússia, mas é preciso esperar para ver. De qualquer forma, o que não deve ser alterado é o cronograma das Nações Unidas para a situação de Alepo. 

O ataque desta segunda-feira, 19, ocorreu em um momento de descongelamento das relações russo-turcas. O chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, estava prestes a visitar Moscou para discutir questões relativas à Síria. Embora os islamistas da Turquia estejam furiosos com a Rússia (e ainda mais com o Irã) pelo o que está acontecendo em Alepo, o governo tem coordenado as ações de maneira próxima a Moscou. Mas, como dito anteriormente, se Ancara suspeitar – ou preferir argumentar – que o ataque foi uma falsa bandeira operada pelos gulenistas ou pelo Ocidente, acredito que o assassinato pode, de fato, aproximar Erdogan de Putin.

Vale lembrar ainda que a Turquia está oficialmente em “estado de emergência” desde a tentativa de golpe de 15 de julho, o que significa a adoção de medidas mais duras de segurança por todo o país. Apesar disso, apenas na última semana ocorreram dois grandes ataques terroristas, um em Istambul e outro na cidade de Kayseri, seguidos pelo ataque da noite de ontem. Depois de anos de processos politizados, expurgos em massa e grande paranoia nos mais altos níveis do Estado, as instituições do país, a burocracia e os serviços de segurança foram desconfigurados e tornados sem efeito. Como resultado, parece que a Turquia vem se tornando rapidamente um país ingovernável.* É PROFESSOR DE ESTUDOS DA TURQUIA MODERNA NA UNIVERSIDADE DE GRAZ, NA ÁUSTRIA

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