CENÁRIO: Após novo massacre de crianças, onde está o presidente Trump?
O massacre na Flórida revela as deficiências do presidente Donald Trump. Em lugar de encarar o país, ele se escondeu. Tudo que fez foi tuitar comentários superficiais.
Por Jennifer Rubin
Atualização:
O massacre na Flórida revela as deficiências do presidente Donald Trump. Em lugar de encarar o país, ele se escondeu. Não se dirigiu à nação. Sua secretária de imprensa não falou. Tudo que ele fez foi tuitar comentários superficiais. “Mando minhas preces e condolências às famílias das vítimas”, disse. “Nenhuma criança, professor ou qualquer outra pessoa deveria se sentir inseguro numa escola americana.” Na quinta-feira, dia 15, ele era um observador impassível, já procurando enquadrar a tragédia como crise de saúde mental.
“Há muitos indícios de que o atirador é mentalmente perturbado.” Estaria Trump culpando as vítimas ou apenas dizendo tolices? De novo, sua reação foi escrever. Não dá para imaginar os presidentes Barack Obama, George W. Bush ou Bill Clinton se comportando assim.
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O papel de consolador-chefe está muito além de Trump. É difícil vê-lo divulgando uma mensagem de conforto, como faziam presidentes anteriores. Trump não tem compaixão. Sua incapacidade de falar sobre chacinas em escolas americanas – que tira mais vidas do que o terrorismo islâmico – revela suas prioridades. Ele nunca está pronto a dar uma resposta a massacres em escolas. No entanto, antes de os fatos serem conhecidos em matanças jihadistas, Trump já anuncia medidas anti-imigração.
Sobre chacinas, ele se contenta em dizer que nada pode ser feito. No caso de os assassinos serem supremacistas brancos ou adolescentes perturbados, qualquer proposta de controle de armas deve ser descartada porque não impediria o ataque específico. Já com o terrorismo islâmico, essa relação de causa e efeito não é exigida.
Ataque em escola na Flórida mata 17
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Ataque em escola na Flórida mata 17
O jovem Nikolas Cruz, de 19 anos, matou 17 pessoas em uma escola na Flórida na quarta-feira 14. Ele estudou no local e, segundo testemunhas, era descr... Foto: AP Photo/Joel AuerbachMais
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O xerife Scott Israel, do Condado de Broward, responsável pela região, afirmou que o suspeito usou um rifle AR-15 contra os estudantes Foto: Mark Wilson/Getty Images/AFP
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Segundo relatos, Cruz usava máscara de gás, um chapéu preto e calça e blusa marrons no momento do ataque Foto: AFP PHOTO / Michele Eve Sandberg
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Ele seria integrante de grupos pró-armas nas redes sociais e teria participado de debates na internet sobre fabricação de bombas Foto: AFP PHOTO / Michele Eve Sandberg
Ataque em escola na Flórida mata 17
O atirador chegou ao colégio Marjory Stoneman Douglas no horário de saída dos alunos. Antes de atacar, ele disparou o alarme de incêndio, justamente p... Foto: Saul Martinez/The New York TimesMais
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Ele foi preso sem apresentar resistência na cidade vizinha de Coral Springs, cerca de uma hora após deixar a escola Foto: John McCall/South Florida Sun-Sentinel via AP
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Nikolas Cruz foi acusado formalmente de 17 homicídios premeditados. Um promotor público do Estado apresentou as acusações no dia seguinte ao ataque Foto: Mike Stocker-South Florida Sun-Sentinel via AP
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Segundo autoridades, o agressor comprou a arma usada no massacre legalmente. Era conhecido como um jovem amante das armas que havia sido expulso do co... Foto: ReutersMais
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Nikolas Cruz tinha problemas familiares e perdeu a mãe adotiva recentemente, antes de se mudar para a casa de amigos, onde apresentava um comportament... Foto: ReutersMais
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Cruz e seu irmão biológico, Zachary, são filhos adotivos. Seus pais os adotaram depois de terem se mudado de Nova York para a Flórida, nos anos 1990 Foto: Michele Eve Sandberg/AFP
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Cruz chegou a receber tratamento psicológico por um tempo, mas desistiu das sessões há mais de um ano, segundo o prefeito do Condado de Broward, Beam ... Foto: Cristóbal Herrera/EFEMais
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A família está cooperando com as investigações e não é suspeita de colaborar com o ataque, segundo o relato do advogado que a representa Foto: Mike Stocker/South Florida Sun-Sentinel via AP
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O presidente dos EUA, Donald Trump, atribuiu o ataque a um distúrbio mental e à falta de vigilância Foto: AFP PHOTO / Michele Eve Sandberg
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Trump não mencionou em momento algum a questão do controle sobre a venda de armas de fogo Foto: Reuters
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Nascido em setembro de 1998, Cruz (centro) havia publicado nas redes sociais mensagens "muito alarmantes", indicou o xerife Scott Israel Foto: AFP PHOTO / AFP TV / Miguel GUTTIEREZ
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Um dia antes do ataque, o jovem (foto) postou um vídeo em uma rede social afirmando que "coisas ruins vão acontecer amanhã" (quarta-feira) Foto: Broward County Sheriff/Handout via REUTERS
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Um estudante entrevistado pela emissora local WSVN-7 explicou que o jovem era "um menino com problemas" que possuía armas em casa e falava em usá-las.... Foto: Instagram via APMais
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Outro estudante entrevistado pela emissora WJXT afirmou que era previsível que Cruz cometesse um ataque.A foto foi postada pelo agressorem sua conta n... Foto: Instagram via APMais
E há o Congresso. Passados mais de quatro meses da chacina em Las Vegas, o Congresso controlado pelos republicanos não fez nada a respeito, nem o simples banimento do dispositivo que possibilita mais tiros por uma arma. Também não há nada à vista sobre modificações na política de posse de arma. Não é tolerada nenhuma inconveniência, mínima que seja, para donos de armas.
Os republicanos, incluindo Trump, gostam de dizer que o problema das armas é de saúde mental. Neste campo, eles querem fazer menos, não mais. Como parte da “reforma do serviço de saúde”, o Congresso quer reduzir a verba para o Medicaid, que cuida de doentes mentais. Trump está emocional e politicamente inerte em relação a esses problemas.
Quanto ao Congresso, enquanto os extremistas republicanos anticontrole de armas e antigoverno dominarem Washington, não devemos esperar muito. Isso deixa o problema em mãos das legislaturas estaduais e municipais, de ativistas e de eleitores. Reconhecer a garra de aço da Associação Nacional do Rifle não significa que não possamos fazer mais do que enviar “condolências e preces”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ