
15 de outubro de 2019 | 06h00
A base aérea de Incirlik é uma porta do Inferno: abriga ao menos 50 bombas nucleares B61, do arsenal americano, cerca de 200 mísseis de cruzeiro da classe Tomahawk e dezenas de aviões de combate, mais transportadores, drones e versões de inteligência, aqueles gigantes cheios de antenas para captar, ver e ouvir informações estratégicas - espiões, por definição.
É operada pela força aérea da Turquia, com grande presença da aviação militar dos Estados Unidos e, em proporção menor, também por um grupamento avançado do Reino Unido. A pista principal, de pouco mais de 3 km de extensão, é feita de concreto reforçado para suportar impactos diretos.
O tamanho do efetivo estrangeiro no complexo é estimado em 900 homens e mulheres, 600 deles das forças dos EUA. A remoção do arsenal atômico está sendo estudada desde 2016.
A transferência de 50 ogivas no cenário atual seria um fator complicador, com "alto risco" de acidente, tentativa de roubo ou atentado, de acordo com análise do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
A escalada da crise regional iniciada há cinco dias, com a decisão do presidente Donald Trump de retirar tropas da frente curda, no norte e noroeste da Síria, abriu um novo viés no conflito civil que consome o país há oito anos.
O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, ordenou um amplo ataque contra a população curda, que até agora lutava ao lado dos americanos contra os radicais do Estado Islâmico (EI).
A Turquia é uma potência militar regional, mantém uma industria de equipamentos de Defesa. Marinha, Exército e Aeronáutica somam entre 510 mil e 600 mil combatentes.
A força aérea dispõe de 350 caças. Em terra, as unidades blindadas podem mobilizar 2,5 mil tanques pesados. A esquadra naval conta 19 fragatas lançadoras de mísseis.
O objetivo do regime turco é isolar os curdos estabelecendo uma faixa de segurança de 480 km de extensão e 30 km de largura na linha da fronteira. Até o fim de semana aproximadamente 120 km estavam sob controle dos turcos.
Militantes do EI haviam deixado os campos de confinamento. Em Ain Issa, 785 mulheres e crianças, parentes de terroristas detidos, deixaram a área.
O Pentágono, em Washington, teme a expansão do cenário de fogo. Incirlik e suas bombas atômicas estão a 390 km da capital, Ancara, e a 60 km da divisa com a Síria. As B61 foram levadas para lá durante a Guerra Fria como fator de contenção da extinta União Soviética.
São modelos gravitacionais, sem propulsão, mas é provável que tenham incorporado sistemas de guiagem 'inteligente' para aumentar a precisão. São armas pequenas, pesam 320 kg, medem 3,56 metros, e têm 33 centímetros de diâmetro.
As B61 começaram a ser construídas em 1961. Foram feitas 3.150 unidades. O tipo mais recente é o MoD 11, em uso desde 1997. A ogiva é de penetração: mergulha no solo por vários metros antes de explodir.
Destina-se à destruição de alvos de infraestrutura; centrais de energia, aeroportos, distritos industriais. A capacidade da carga nuclear, cerca de 340 kilotons, é considerada reduzida: é 17 vezes mais potente que a bomba lançada em Hiroshima.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.