A radiação da decadente usina nuclear de Fukushima está se tornando a mais recente fonte de atrito entre o Japão e a Coreia do Sul, potencialmente entrando no caminho dos esforços de Tóquio para promover a Olimpíada de 2020.
Nos últimos dias, oficiais sul-coreanos convocaram um diplomata japonês, para demonstrar preocupação a respeito de um descarte planejado no oceano de água radioativa tratada pela Tepco, empresa proprietária da usina.
Eles também têm pressionado por checagens de radiação independentes nos eventos olímpicos, além de propor uma lanchonete separada para seus atletas, citando a preocupação com comida contaminada.
A disputa radioativa ameaça prolongar as tensões entre os dois aliados dos EUA, que passaram boa parte do verão trocando sanções econômicas e ameaças diplomáticas em uma disputa olho por olho. A contenda expôs uma desconfiança protelada e desacordos sobre a regra colonial japonesa na Península Coreana.
As preocupações da Coreia do Sul sobre a radiação contrastam com sinais de atitudes mais leves tomadas na semana passada, no aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. O Japão também tem tomado medidas para mostrar que os recentes controles de exportação não vão prevenir vendas legítimas ao seu vizinho.
A JSR Corp., uma das fabricantes de materiais sujeita às restrições, recebeu uma permissão de exportação nesta semana, de acordo com uma fonte familiar ao assunto.
A Coreia do Sul também decidiu romper com o acordo de compartilhamento de inteligência nuclear com o Japão, na quinta-feira. O ministro de Relações Exteriores japonês, Taro Kono, reagiu afirmando que “rejeita com veemência” a decisão de Seul.
A questão da radiação na usina nuclear de Fukushima Daiichi, danificada em 11 de março de 2011 após um terremoto e um tsunami, tem pairado sobre a aposta de Tóquio para a Olímpiada desde o começo.
O premiê japonês Shinzo Abe carregou o peso da campanha nas costas, garantindo ao Comitê Olímpico Internacional em um discurso em 2013 que a usina estava “sob controle” e não teria impacto na capital.
Agora, a Tepco prepara um descarte dos tanques de armazenamento locais, que devem ficar cheios em 2022 com água tratada para remover a maioria dos elementos radioativos.
Um conselheiro da empresa recomendou um descarte controlado no Pacífico Ocidental – uma prática comum de outros reatores ao redor do mundo – enquanto a ONG ambientalista Greenpeace tem alertado para manter a água armazenada.
A Coreia do Sul convocou um diplomata japonês na segunda-feira, com o ministro das Relações Exteriores alertando Tóquio para olhar os pontos de vista de organizações internacionais no assunto, além de ser mais transparente sobre seus planos.
Separadamente, o Comitê Olímpico e Esportivo da Coreia planeja fazer um pedido oficial para que o Comitê Olímpico do Japão monitore a radiação nos locais de jogos, disse a assessora de imprensa do comitê, Lee Mi-jin.
Oficiais sul-coreanos também desenvolveram um plano para operar uma lanchonete separada exclusivamente para os atletas sul-coreanos, para certificar que elas não comam alimentos de Fukushima, disse Lee.
O Ministério de Alimentos da Coreia do Sul também anunciou na quarta-feira que iria implementar checagens para radiação em 17 itens importados do Japão, incluindo chá e chocolate. Produtos de Fukushima são conferidos antes de serem empacotados e estão amplamente à venda em supermercados japoneses.
Dados recentes da organização Safecast mostram que índices de radiação em Tóquio são de certa forma menores do que aqueles em Seul.
O Comitê de Organização da Olimpíada de Tóquio 2020 se negou a comentar solicitações de comitês de organização de outros países.