Cenário: Fukushima se torna o mais recente ponto de atrito entre Japão e Coreia do Sul

Em meio à ruptura do acordo de inteligência entre Coreia do Sul e Japão, a usina nuclear desativada é outro fator de embate em meio às expectativas para a Olimpíada de 2020

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Por Isabel Reynolds , Jihye Lee e Bloomberg
Atualização:

A radiação da decadente usina nuclear de Fukushima está se tornando a mais recente fonte de atrito entre o Japão e a Coreia do Sul, potencialmente entrando no caminho dos esforços de Tóquio para promover a Olimpíada de 2020.

Nos últimos dias, oficiais sul-coreanos convocaram um diplomata japonês, para demonstrar preocupação a respeito de um descarte planejado no oceano de água radioativa tratada pela Tepco, empresa proprietária da usina.

O tsunami de 2011 matou cerca de 18 mil pessoas e inundou a usina nuclear de Fukushima, provocandoo colapso de seus reatores Foto: Damir Sagolj / Reuters

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Eles também têm pressionado por checagens de radiação independentes nos eventos olímpicos, além de propor uma lanchonete separada para seus atletas, citando a preocupação com comida contaminada.

A disputa radioativa ameaça prolongar as tensões entre os dois aliados dos EUA, que passaram boa parte do verão trocando sanções econômicas e ameaças diplomáticas em uma disputa olho por olho. A contenda expôs uma desconfiança protelada e desacordos sobre a regra colonial japonesa na Península Coreana.

As preocupações da Coreia do Sul sobre a radiação contrastam com sinais de atitudes mais leves tomadas na semana passada, no aniversário da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. O Japão também tem tomado medidas para mostrar que os recentes controles de exportação não vão prevenir vendas legítimas ao seu vizinho.

A JSR Corp., uma das fabricantes de materiais sujeita às restrições, recebeu uma permissão de exportação nesta semana, de acordo com uma fonte familiar ao assunto.

A Coreia do Sul também decidiu romper com o acordo de compartilhamento de inteligência nuclear com o Japão, na quinta-feira. O ministro de Relações Exteriores japonês, Taro Kono, reagiu afirmando que “rejeita com veemência” a decisão de Seul.

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A questão da radiação na usina nuclear de Fukushima Daiichi, danificada em 11 de março de 2011 após um terremoto e um tsunami, tem pairado sobre a aposta de Tóquio para a Olímpiada desde o começo.

O premiê japonês Shinzo Abe carregou o peso da campanha nas costas, garantindo ao Comitê Olímpico Internacional em um discurso em 2013 que a usina estava “sob controle” e não teria impacto na capital.

Agora, a Tepco prepara um descarte dos tanques de armazenamento locais, que devem ficar cheios em 2022 com água tratada para remover a maioria dos elementos radioativos.

Um conselheiro da empresa recomendou um descarte controlado no Pacífico Ocidental – uma prática comum de outros reatores ao redor do mundo – enquanto a ONG ambientalista Greenpeace tem alertado para manter a água armazenada.

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A Coreia do Sul convocou um diplomata japonês na segunda-feira, com o ministro das Relações Exteriores alertando Tóquio para olhar os pontos de vista de organizações internacionais no assunto, além de ser mais transparente sobre seus planos.

Separadamente, o Comitê Olímpico e Esportivo da Coreia planeja fazer um pedido oficial para que o Comitê Olímpico do Japão monitore a radiação nos locais de jogos, disse a assessora de imprensa do comitê, Lee Mi-jin.

Oficiais sul-coreanos também desenvolveram um plano para operar uma lanchonete separada exclusivamente para os atletas sul-coreanos, para certificar que elas não comam alimentos de Fukushima, disse Lee.

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O Ministério de Alimentos da Coreia do Sul também anunciou na quarta-feira que iria implementar checagens para radiação em 17 itens importados do Japão, incluindo chá e chocolate. Produtos de Fukushima são conferidos antes de serem empacotados e estão amplamente à venda em supermercados japoneses.

Dados recentes da organização Safecast mostram que índices de radiação em Tóquio são de certa forma menores do que aqueles em Seul.

O Comitê de Organização da Olimpíada de Tóquio 2020 se negou a comentar solicitações de comitês de organização de outros países.

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