Cenário: Potência da bomba que foi testada é surpresa inquietante 

O ensaio norte-coreaeno indicou que os técnicos de Pyongyang já dominam a tecnologia da miniaturização dos sistemas e tem a capacidade, sim, de instalar a bomba a bordo de uma ogiva de foguete

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Agora é sério, muito sério. O teste nuclear da Coreia do Norte não é mais um procedimento de laboratório, passou da marca dos 20 quilotons, pode mesmo ter chegado aos 30 kt – alguma coisa como a explosão de 30 mil toneladas de trinitrotolueno. É o dobro do poder de destruição da bomba lançada sobre Hiroshima, há 70 anos, matando cerca de 166 mil pessoas, civis principalmente.  “Não é mais instrumento político; virou ameaça de fato”, disse ao Estado o analista de assuntos de Defesa, Hernan Artigas, colaborador do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade de Georgetown. 

Sul-coreanos veem na televisão reportagem sobre o maior teste nuclear realizado pela Coreia do Norte Foto: AFP PHOTO / JUNG YEON-JE

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Mais grave, o ensaio norte-coreaeno indicou que os técnicos de Pyongyang já dominam a tecnologia da miniaturização dos sistemas e tem a capacidade, sim, de instalar a bomba a bordo de uma ogiva de foguete. Essa condição, associada ao bem sucedido programa de desenvolvimento de mísseis do país, levou ontem os cenaristas à conclusão aterradora de que Kim Jong-un pode lançar um ataque devastador contra qualquer de seus vizinhos, ou até mais distante que isso – o pesado foguete Taepodong-2, um gigante de 36 metros de altura e três estágios, é capaz de atingir a Costa Oeste dos Estados Unidos, incluindo o Alasca e a ilha de Guam. Em outra direção, leva sua carga de 750 quilos até 1 tonelada para ser despejada contra alvos no Oriente Médio e parte da Europa.

O processo foi controlado e monitorado. Aparentemente, o buraco da detonação tinha de 200 metros a 800 metros de profundidade, com instrumentos de monitorameto instalados ao longo de dois terços da extensão total do tubo, feito de concreto revestido de gesso e aço enrijecido. 

O artefato foi instalado no fundo, sobre um espécie de almofada; camadas de brita e areia grossa molhada, recursos usados para reduzir a força da onda de choque.

A carga nuclear do artefato é detonada à distância, de dentro de um abrigo blindado, construído sobre grandes amortecedores, que também serve para a observação. No momento da explosão o solo treme intensamente. Na base do túnel de teste, as rochas são vaporizadas abrindo uma câmara ocupada por gases de temperatura na casa do milhão de graus Celsius. Essa reação térmica dura pouco tempo. O resfriamento provoca o desabamento da cúpula formada pelos metais derretidos, contidos no solo. Na superfície fica uma extensa depressão. 

Entre a primeira experiência, há 10 anos, e a quinta, realizada ontem, a força da arma nuclear norte-coreana aumentou muito. O efeito sismológico, um terremoto artificial provocado pelas explosões, passou de 4,3 pontos para 5,3, na escala Richter. 

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