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Cientista político e economista

Opinião|Cenário: Reformas e futuro econômico da França estão em jogo nas urnas

Marine Le Pen coloca-se contra a UE e o euro, a quem atribui a culpa pela crise no país; Macron ampliaria reformas iniciadas por Hollande, que estão dando certo, mas custaram a populariade do atual presidente

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Por Redação
Atualização:

Os eleitores franceses estão de mau humor. E a causa desse mau humor não é difícil de encontrar. A economia da França é uma das mais fracas entre os países avançados. O desemprego tem se mantido em cerca de 10% há quatro anos e está bem acima da média da União Europeia. A renda per capita está próxima dos níveis de 2007.

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Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, de extrema-direita, coloca a culpa na União Europeia e no euro, o que, segundo ela, tornou impossível para a indústria francesa competir com a da Alemanha. Sua solução: a saída da França da UE.

Mas os problemas da França antecedem a crise do euro e a austeridade que se seguiu. De 1990 a 2007, a França teve o segundo crescimento econômico per capita mais fraco entre as economias avançadas, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Apenas a Itália teve um desempenho pior.

A líder da extrema-direita e candidata à presidência da França em evento em Paris. Foto: Martin Bureau/AFP

As razões para os problemas franceses são numerosas, mas a mais importante é um mercado de trabalho excessivamente regulado e inflexível, que desestimulou a contratação e o investimento, reduziu a produtividade e deixou muitos trabalhadores franceses sem a educação e a qualificação necessárias.

Algumas estatísticas dão suporte a essa afirmação. Enquanto apenas 8% dos trabalhadores são sindicalizados, 90% estão cobertos por acordos coletivos. A centralização das negociações torna quase impossível para as empresas equilibrar as contratações e as necessidades para as fábricas. É demorado e oneroso demitir um trabalhador.

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Os impostos de renda e de folha de pagamento são quase 50% do salário médio. A grande diferença entre o que os empregadores pagam e o que os trabalhadores recebem desestimula o trabalho. O seguro-desemprego é generoso e o salário mínimo, elevado. O resultado disso é um mercado de trabalho bifurcado onde uma grande parte dos trabalhadores, especialmente os jovens, trabalham em contratos temporários e recebem pouca ou nenhuma formação. As taxas de analfabetismo e analfabetismo matemático são muito superiores à média da OCDE.

Esses problemas persistem porque os eleitores franceses, apesar de sua óbvia vontade de mudança, puniram qualquer presidente que tentasse resolver os problemas subjacentes. A França nunca teve um Ronald Reagan ou uma Margaret Thatcher. Líderes conservadores reduziram impostos, privatizaram empresas e impulsionaram a concorrência, mas as mudanças que afetam os trabalhadores são geralmente respondidas com greves e manifestações.

Mesmo quando a Alemanha, no início dos anos 2000, injetou flexibilidade em seus mercados de trabalho, a França foi em outra direção, criando uma semana de trabalho de 35 horas sobre a premissa equivocada de que isso reduziria o desemprego. A curta semana de trabalho é agora quase sagrada.

Ironicamente, o presidente socialista François Hollande é o que tem sido mais ousado. Embora eleito com uma plataforma de extrema-esquerda de impostos mais altos e mais intervenção estatal, executou uma reviravolta.

Ele injetou mais concorrência nos mercados de produtos, como serviços jurídicos e transporte de ônibus, depois abordou o mercado de trabalho com planos para descentralizar as negociações trabalhistas e facilitar as regras de demissão de trabalhadores. As decisões provocaram uma reação negativa dentro do partido socialista e nas ruas.

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Hollande pagou um preço alto pelas reformas. Elas são uma das razões pelas quais sua popularidade caiu e ele não concorreu a um segundo mandato.

O mercado de trabalho da França, finalmente, começou a recuperar. O crescimento do emprego no ano passado foi relativamente saudável. Ainda assim, a recuperação do mercado de trabalho permanece muito aquém da observada na Espanha, onde as reformas foram mais radicais (e a recessão, muito mais profunda). Emmanuel Macron, ex-ministro da Economia de Hollande e dissidente do Partido Socialista ampliaria as reformas.

Os eleitores franceses não estão decidindo se sua economia permanecerá integrada com a Europa, mas se terá as mudanças necessárias para prosperar dentro do bloco.

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