Centro Niemeyer da Espanha fecha as portas no dia do aniversário do arquiteto

Moradores de Avilés criaram, em vão, movimento para manter aberta a instituição

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MADRI - Os 104 anos do arquiteto Oscar Niemeyer estão sendo lembrados de maneira peculiar na Espanha nesta quinta-feira, 15. Centenas de manifestantes gravaram um vídeo de parabéns ao brasileiro em frente ao centro cultural projetado por ele, em Avilés, que fecha as portas no dia de seu aniversário. Os parabéns cantados em português, espanhol e inglês fazem parte da campanha popular "Eu apoio o Centro Niemeyer". Trata-se de um último apelo para impedir o fechamento do espaço cultural em virtude de uma disputa política. O centro ficou aberto por menos de um ano. Foi inaugurado no dia 25 de março de 2011 com um concerto da banda de jazz do cineasta Woody Allen. Única obra do arquiteto na Espanha, o centro conta com teatros, cinemas, auditórios, salas de exposição, espaços gastronômicos e uma área aberta inspirada na Praça dos Três Poderes, de Brasília, além de um mirante parecido com o do Museu de Niterói. Mas o projeto que colocou o pequeno município de Avilés, de 80 mil habitantes, no mapa cultural da Espanha mudou de rumo após as eleições regionais. O novo governo conservador e a administração do Centro Niemeyer entraram em conflito e a decisão foi não renovar a licença de funcionamento do complexo, que vencia no dia do aniversário do arquiteto. A disputa começou com acusações mútuas. O governador Francisco Alvarez-Cascos criticou a programação dos eventos (coordenada por nomes como Stephen Hawking, Paulo Coelho e Woody Allen) e disse que a contabilidade estava irregular. A direção do centro negou qualquer erro nas contas, entregando a documentação à Justiça. Os diretores também acusaram o governo regional de perseguição e tentaram negociar até o último momento. Derrota A reunião final, na passada segunda-feira, durou 13 horas e acabou sem acordo, sob ameaças de processos milionários das partes. Para o diretor geral do centro, Natálio Grueso, o fechamento do espaço cultural significa "uma derrota da sociedade civil". "Em quatro meses o governo fez de tudo para acabar com o Centro Niemeyer: críticas com desprezo à programação, negação da legitimidade da direção, acusações de irregularidades sem prova alguma. Eles também se fecharam ao diálogo e até a ouvir os pedidos dos cidadãos, de artistas e intelectuais, nem mesmo os de Oscar Niemeyer", disse Grueso à BBC Brasil. Grueso insistiu em que todas as contas e documentação foram entregues à Justiça "porque não temos nada que esconder" e "porque é intolerável que se questione a honra e dignidade dos profissionais com quem trabalhamos". Desgosto Entre os pedidos para que o Centro não fosse fechado estavam os de artistas como o ator americano Kevin Spacey que, antes de atuar na peça Ricardo III, encenada em Avilés, disse ao público que saísse às ruas "para enfrentar à arbitrariedade política contra o Centro Niemeyer". O arquiteto brasileiro também tentou intervir. Em uma carta aberta divulgada em outubro, Niemeyer usou expressões como "notícias inquietantes", "lamento" e "desgosto" ante a ameaça de fechamento do centro, "um projeto que realizei com o maior carinho", dizia. Sobre as acusações contra os administradores, afirmava: "Solidarizo-me com Natálio e seus companheiros de trabalho". "Confio em que o pior não aconteça", afirmou então. A população de Avilés se uniu no movimento "Eu Apoio o Centro Niemeyer". A campanha teve passeatas, protestos e uma corrente humana com quatro mil pessoas ao redor do espaço cultural. Os moradores também iluminaram o centro com velas e colheram dez mil assintauras. Em vão. O último ato foi a homenagem, com sentimento de desgoto, ao ilustre aniversariante.

 

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