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Cerca de 85 mil crianças morreram de fome no Iêmen nos últimos 4 anos

Crianças com menos de 5 anos estão morrendo de fome extrema no país desde que uma coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio na guerra civil em 2015

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - Cerca de 85 mil crianças com menos de 5 anos morreram de fome desde que as hostilidades se intensificaram na guerra do Iêmen, há quase quatro anos, revelou um relatório divulgado nesta quarta-feira, 21, pela ONG Save The Children.

Imagem de Amal Hussain deitada em uma cama de hospital no norte do Iêmen se tornou o símbolo da fome no país Foto: Tyler Hicks/The New York Times

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Segundo as estimativas da organização, feita com dados coletados pela ONU, 84.701 crianças com desnutrição aguda grave morreram entre abril de 2015 e outubro de 2018, segundo os dados divulgados em seu site.

"Para cada criança morta por bombas e balas, dúzias morrem de fome e é isso algo que pode ser prevenido completamente", afirmou a diretora da ONG no Iêmen, Tamer Kirolos, que se mostrou "horrorizada" com o fato de cerca de 85 mil crianças no Iêmen terem morrido por "causa da fome extrema".

Os menores que morrem de fome "sofrem à medida que as funções dos seus órgãos vitais diminuem e finalmente param", explicou Tamer, ao ressaltar que os sistemas imunológicos dessas crianças são tão frágeis que "são mais propensas às infecções, com algumas tão fracas que não conseguem nem chorar".

"Os pais têm de presenciar como seus filhos vão sendo consumidos, incapazes de fazer nada a respeito", lembra a diretora da ONG.

Depois da intensificação do conflito, 14 milhões de pessoas estão em risco de sofrer uma crise de fome, um número que "aumentou dramaticamente" desde que a coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita impôs um bloqueio marítimo e aéreo que agravou a insegurança alimentícia no país.

Importações

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Desde então, afirma a ONG, as importações de alimentos pelo porto da Al Hudaydah, onde atualmente é travada uma sangrenta batalha, se reduziram em mais de 55 mil toneladas métricas ao mês, "o suficiente para satisfazer as necessidades de 4,4 milhões de pessoas, incluídas 2,2 milhões de crianças".

Nesse período, a Save The Children proporcionou alimentos para 140 mil crianças e tratou mais de 78 mil com desnutrição desde o início da crise.

"Apesar dos desafios, salvamos vidas todos os dias", afirmou a responsável da ONG, que, devido ao bloqueio, leva provisões vitais para o norte do país pelo Porto de Áden.

"Como resultado, pode demorar até três semanas para que a ajuda chegue às pessoas ao invés de uma, o tempo que demoraria se o porto de Al Hudaydah estivesse em pleno funcionamento", explica Tamer, que também destaca o "aumento dramático dos ataques aéreos" nessa cidade nas últimas semanas.

Essas centenas de bombardeios na região "põem em perigo as vidas dos aproximadamente 150 mil crianças que ainda estão encurraladas na cidade", segundo a ONG, que "pede o fim imediato da guerra para que não se percam mais vidas".

"Precisamos com urgência obter alimentos com alto conteúdo de nutrientes para as crianças mais vulneráveis do Iêmen, algumas das quais estão realmente à beira do abismo", explicou Tamer, que acrescentou que "com apenas US$ 60 é possível alimentar uma família de sete membros durante um mês inteiro". 

Criança vira símbolo da fome no país

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Pele e ossos. Ghazi Saleh, que tem 10 anos e pesa apenas oito quilos, respira com dificuldade em um leito de hospital em Taez, uma cidade do sudoeste do Iêmen.

Criança passa fome no Iêmen: Ghazi Saleh tem 10 anos e pesa apenas 8 quilos Foto: AL-JABIRY / AFP

Faminto e muito fraco para se mexer, e até mesmo para chorar, o pequeno luta para se manter de olhos abertos.

No hospital Al-Mudhafar, onde Ghazi está internado, o pessoal médico vai de uma cama à outra para examinar os recém-nascidos e as crianças que sofrem de desnutrição como ele.

Alguns médicos os pesam, outros tentam alimentá-los por via intravenosa. Seus corpos estão muito enfraquecidos para comer.

É o caso de Ghazi, que "não come bem há um tempo", diz a enfermeira Emane Ali. /EFE e AFP

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