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Cerco prolongado em Bagdá é pesadelo para coalizão

Por Agencia Estado
Atualização:

Saddam Hussein ameaçou a coalizão anglo-americana de que Bagdá poderá se tornar, para as forças invasoras, o que foi Stalingrado para as forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, e, embora não pareça provável que o Iraque tenha recursos para enfrentar uma força muito superior, acredita-se na possibilidade de que os invasores paguem um alto preço pela ocupação da capital iraquiana. O vice-primeiro-ministro iraquiano, Tareq Aziz, pode ter assumido, em 7 de fevereiro, um papel profético ao prometer aos americanos que, em caso de um ataque, Bagdá se transformaria na "Stalingrado americana". Agora, em meio à guerra no Iraque, um importante analista árabe de Amã afirmou que os EUA correm o risco de sofrer na capital do Iraque uma derrota similar à do 6º Exército alemão, comandado pelo general Friedrich Von Paulus, que, na cidade às margens do rio Volga, encontrou sua ruína, após uma série de cruentas batalhas e um inútil cerco que durou seis meses, de agosto de 1942 a fevereiro de 1943. A audaciosa propaganda iraquiana, alimentada pelas dificuldades enfrentadas pela operação anglo-americana, evocou, nestas últimas semanas, para as tropas dos EUA, os cenários da tragédia vivida pelos soldados americanos no Vietnã. Mas os cercos que terminaram com a retirada dos sitiadores são, ao longo da história, menos freqüentes do que os que foram coroados pelo êxito e a conseqüente ruína dos sitiados. Entre os primeiros é preciso lembrar o cerco a Viena, em 1683, o de Leningrado (de setembro de 1941 a janeiro de 1944) e o muito mais recente de Sarajevo (de abril de 1992 a agosto de 1995). Entre os demais, após o legendário cerco a Tróia, se encontram o de Jerusalém, nos tempos da primeira cruzada, o de Constantinopla, em 1453, em seguida o de Sebastopol, na Guerra da Criméia (1853-1856), além do mais recente, a Grozny, na Chechênia. Em julho de 1683, os turcos, comandados pelo grão-vizir Kara Mustafá, rodearam Viena; um mês antes, haviam invadido a Áustria. O ponto fraco dos sitiadores foi a falta de um número adequado de peças de artilharia, e em 22 de setembro os austríacos romperam o cerco, obrigando os turcos a fugir. Cercada por três lados pelos alemães, a cidade de Leningrado, atual São Petersburgo, resistiu ao cerco dos alemães de setembro de 1941 a janeiro de 1944. Defendidos por 200.000 homens do Exército Vermelho, os 3 milhões de habitantes da cidade, embora dizimados pela fome, conseguiram resistir graças às provisões que lhes chegavam através do lago Ladoga. Durante 872 dias, os alemães bombardearam a cidade, antes de serem obrigados a se retirar. Sarajevo foi sitiada pelos servo-bósnios após a proclamação unilateral da independência da Bósnia, em abril de 1992. O cerco de blindados estrangulou a cidade, sobre a qual caía uma média de 2.000 granadas diárias; 10.000 pessoas morreram e dezenas de milhares ficaram feridas. O martírio de Sarajevo cessou quando a Otan decidiu intervir no verão (boreal) de 1995, pondo fim aos ataques da artilharia servo-bósnia. A legendária Tróia, cenário da "Ilíada" de Homero, caiu após dez anos de cerco do exército grego, no século 12 a.C. Quanto a Jerusalém, então possessão árabe, foi "libertada" pelos cristãos após um assédio que não foi longo mas, sim, cruento, durante a primeira cruzada, e foi transformada em capital do reino cristão de Jerusalém antes de voltar ao domínio muçulmano. Constantinopla foi cercada em abril de 1463 pelo exército otomano e, poucos dias mais tarde, o sultão Muhammad II chegou a ela à frente de um enorme contingente. O sítio à capital do império romano do Oriente foi um dos mais cruentos da história e marcou a maior cisão entre os mundos cristão e islâmico, terminando com a queda da velha Bizâncio, cujas ruas se transformaram em "rios de sangue" enquanto o sultão entrava a cavalo na igreja de Santa Sofia. Sebastopol, a principal base russa sobre o Mar Negro, foi conquistada em 1855 após um duro cerco pelas tropas anglo-franco-piemontesas durante a Guerra da Criméia, em uma longa agonia, relatada pelo escritor russo Leon Tolstói. Há pouco tempo, Grozny, a capital da república russa da Chechênia, foi cercada e bombardeada durante meses por forças russas para voltar ao controle do governo de Moscou, no final de 2000. Veja o especial :

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