´Cérebro´ de ataque aos trens de Madri se compara ao papa

´O Egípcio´ nega relação com atentado e afirma ter sido mal interpretado como Bento XVI, cujas declarações sobre terrorismo foram consideradas afrontas no Islã

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Por Agencia Estado
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Um dos supostos "cérebros" dos atentados de 11 de março de 2004 em Madri, Rabei Osman El Sayed, negou nesta segunda-feira, 22, que seja sua a voz que assume a autoria do massacre em conversa telefônica gravada na Itália. Ele compara a má interpretação de suas declarações às do papa Bento XVI sobre o terrorismo, que foram consideradas uma afronta ao Islã. Conhecido como "O Egípcio", Sayed é o primeiro dos 29 acusados a ser interrogado no processo realizado na Audiência Nacional espanhola em relação aos atentados de Madri, e voltou nesta segunda a sentar-se no banco dos réus para responder a perguntas de seus advogados de defesa. No tribunal espanhol, "o Egípcio" disse: "Sou um ser humano normal e não tenho nenhuma relação com este ato terrorista, e o condeno totalmente". Em sua defesa, o acusado também afirmou que conversou sobre as notícias dos ataques de Madri com um amigo residente na Bélgica, mas que isso não significa que ele seja o "cérebro" dos ataques. "O Egípcio" afirmou que estas conversas com um amigo foram mal interpretadas. Comparou sua situação com o que ocorreu no ano passado com o Papa Bento XVI, que falou sobre o Islã em uma conferência e teve suas declarações interpretadas como um ataque contra a religião muçulmana. O réu também disse que foi um choque ver as imagens de "seus amigos de Madri" relacionados com os atentados, referindo-se a Serhane Ben Abdelmajid "O Tunisiano", que se suicidou em Leganés (localidade próxima a Madri), e Fouad El Morabit, acusado de ajudar a organização terrorista. Rabei Osman El Sayed foi detido no dia 7 de junho de 2004 e assegurou não saber que estava sendo vigiado e que seu telefone estava sendo grampeado pelas Polícias de Espanha, França e Itália. Julgamento Há onze dias, o acusado, para quem a promotora pede 38.656 anos de prisão como suposto organizador dos ataques, afirmou que não responderia nem às perguntas da defesa, mas depois mudou de idéia e concordou em falar. Naquele dia, seu advogado pediu um recesso no interrogatório para que fossem ouvidas as gravações telefônicas nas quais seu defendido supostamente assumia a autoria dos ataques de 11 de março de 2004, afirmando que o ataque fazia parte de "seus planos". O tribunal concordou e, por isso, a sessão de perguntas foi retomada nesta segunda. Após escutar as gravações, "O Egípcio" afirmou que elas "são muito ruins, não dá para ouvir nada". Acrescentou: "A voz não é minha, não sou quem fala e, além disso, as traduções estão 80% erradas". Segundo as transcrições das conversas telefônicas, a pessoa diz sobre os ataques: "Foi tudo idéia minha", "Custou muita paciência e muito estudo", "Foi meu projeto e levou dois anos e meio". Afirma ainda: "Os que morreram (suicidando-se dias depois dos atentados em meio a uma operação policial nos arredores de Madri) são mártires e meus queridíssimos irmãos". No dia 6 de novembro, El Sayed foi condenado na Itália a dez anos de prisão por terrorismo e, segundo a sentença dos juízes do país, era "um membro influente da Al-Qaeda e da célula islâmica acusada da tragédia de Madri".

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