O governo do Chade anunciou ontem que irá apurar relatos de que 74 crianças chadianas foram levadas do país no dia 17 de setembro para um aeroporto militar próximo a Paris, sem o conhecimento de seus pais. A acusação foi feita por um grupo de ONGs locais. Masngarel Kagah, da promotoria do país, disse que ainda não está claro quem teria levado as crianças e a ONG francesa Arca de Zoé pode não estar envolvida nesse caso. A organização é o pivô de um escândalo, que veio à tona na semana passada, no qual foi acusada de tentar seqüestrar 103 crianças africanas e levá-las para serem adotadas na Europa. A organização alegava que os meninos eram órfãos do conflito em Darfur, que já matou mais de 200 mil pessoas. A ONU, porém, desmentiu o grupo, afirmando que a maioria vivia com suas famílias. De acordo com o promotor, a Rede de Associações de Direitos Humanos do Chade reuniu a informação sobre as 74 crianças após dezenas de pais informarem sobre o desaparecimento de seus filhos. Kagah afirmou que os garotos teriam entre 1 e 6 anos e disse que há suspeitas de que o número de seqüestrados seja maior. "Não sabemos quantas outras crianças chadianas foram levadas para fora do Chade nessas condições, mas iremos investigar", disse. A porta-voz da chancelaria francesa, Pascale Andreani, atenuou a nova acusação de seqüestro de crianças chadianas: "Essa informação não passa de mais um dos rumores que circulam após o problema com a Arca de Zoé. Não tem nenhum fundamento." Os chadianos afirmam que as crianças estavam a bordo de um avião que pousou na base militar de Mourmelon, nos arredores de Paris. Mas o Exército francês desmentiu a informação. "No dia 17 de setembro (data do suposto vôo), não houve nenhum movimento aéreo no local", disse o capitão Christophe Prazuck, porta-voz dos militares. Ele afirmou que o lugar não chega a ser uma base aérea, mas sim uma faixa de grama de 950 metros usada para o treinamento de pára-quedistas. REVOLTA O presidente da Arca de Zoé, Eric Breteau, prestou depoimento ontem na Corte federada, na capital do país, Ndjamena. Do lado de fora do prédio, dezenas de pessoas protestaram contra a libertação de sete europeus que acompanhavam o trabalho da ONG. Os manifestantes carregavam faixas com críticas ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, que viajou para o país no domingo para resgatar três jornalistas franceses. A multidão pedia que os europeus fossem trazidos de volta ao Chade para serem julgados. "Sarkozy se transformou num herói para os traficantes de crianças", dizia um dos manifestantes.