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Divisão sobre Brexit derruba chanceler e ameaça May

Em três dias, três ministros deixam o gabinete da premiê, entre os quais Boris Johnson e David Davis, dois dos mais importantes

Por Andrei Netto CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:
Boris Johnson renunciou ao cargo de Ministro das Relações Exteriores britânico após renuncia do secretário do Brexit, marcando divisão no governo sobre as negociações entre Reino Unido e União Europeia. Foto: AFP PHOTO / OLI SCARFF

A decisão de optar por um divórcio “amigável” com a União Europeia detonou nesta segunda-feira, 9, uma nova crise no governo da premiê britânica, Theresa May. Em três dias, três ministros que pregam uma “separação dura” pediram demissão, entre os quais o chanceler Boris Johnson e o encarregado das negociações do Brexit, David Davis. Contestada, May pode ter de enfrentar um voto de desconfiança no Parlamento.

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A crise é provocada pelas divergências entre moderados e radicais dentro do Partido Conservador. Os primeiros defendem um “Brexit suave”, com a imediata assinatura de um acordo de livre-comércio com a UE e, em contrapartida, aceitam a manutenção da política migratória. Essa tendência é apoiada por grandes empresários e investidores, que desejam que o divórcio, se de fato se confirmar, em março de 2019, tenha o menor impacto econômico e financeiro possível. 

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A segunda tendência é comandada pela ala mais eurocética dos conservadores, liderada por Johnson e Davis. Os dois defendem um “Brexit duro”, ou seja, sem acordo de livre-comércio e sem concessões maiores a Bruxelas em troca da separação.

Até aqui, May flutuava entre uma tendência e outra. No início de seu governo, chegou a defender a hipótese do “Brexit duro”. Mas, com as negociações com a UE se mostrando nocivas para o Reino Unido, sua linha política mudou. Na sexta-feira, a premiê chegou a um suposto “consenso” no Partido Conservador, segundo o qual a linha que vigoraria daqui para a frente seria a “suave”.

Rompimento

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Na noite de domingo, porém, Davis decidiu romper a aparência de consenso e enviou uma carta à premiê informando sua demissão. Segundo ele, essa estratégia tornará o Reino Unido “vassalo” da Europa, porque o país não poderá negociar um acordos de livre-comércio com os EUA ou países da Ásia sem o acordo prévio de Bruxelas. 

“No melhor dos casos, nós ficaremos em posição de fraqueza para negociar”, argumentou Davis na carta. “O interesse nacional exige um ministro do Brexit que acredite muito na sua abordagem, e não apenas alguém que cumpra a política de forma reticente.”

Diante da crise, May não perdeu tempo e nomeou um “eurocético”, o deputado Dominic Raab, como sucessor de Davis. A premiê também falou ao Parlamento na expectativa de acalmar a turbulência, refutando as críticas por ter mudado de linha sobre o Brexit. “Não se trata de uma traição”, assegurou.

Desconfiança

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Seu discurso, entretanto, acabou sendo ofuscado pela demissão de Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, deputado eurocético e um dos líderes da controversa campanha em favor do Brexit, em 2016. Em sua carta de demissão, o chanceler foi duríssimo na crítica à premiê, cujo cargo ele cobiça. “Nós estamos claramente a caminho de um status de colônia”, disparou, referindo-se à relação com a UE. 

Diante da crise crescente, May pode ter de enfrentar nos próximos dias um voto de confiança que ameaça derrubar seu governo. Essa hipótese se concretizará se 48 deputados – 15% do total – assinarem o pedido. Se não obtiver uma maioria dos 316 votos, a premiê é afastada do cargo e um novo deputado conservador poderá pleitear a chefia do governo. 

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