Chanceler de Kadafi admite derrota, mas resistência a rebeldes se mantém

Insurgentes oferecem recompensa para quem entregar ditador - Insurgentes atacam prisão de Abu Salim - Civis esperam volta da normalidade - Boatos tomam conta de Trípoli - França convoca cúpula para ajudar Líbia e deve convidar Brasil

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Por Andrei Netto
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL / TRÍPOLIA julgar pelas palavras de ontem de Abdul Ati al-Obeidi, o chanceler da ditadura da Muamar Kadafi, os 42 anos do regime autoritário na Líbia acabaram. A admissão de que o governo caiu frente à ofensiva do movimento rebelde veio depois que os contatos entre membros do alto escalão do Estado foram interrompidos.Mesmo assim, em várias cidades do país e em pontos estratégicos da capital, partidários de Kadafi seguem resistindo (mais informações nas páginas A14 e A15).Na tentativa de fazê-lo reaparecer, empresários líbios ofereceram US$ 1,7 milhão a quem entregar Kadafi vivo ou morto. "O regime não será realmente encerrado até que ele seja capturado, vivo ou morto", afirmou Moustapha Abdeljalil, presidente do CNT, após encontro em Paris com o presidente da França, Nicolas Sarkozy.Fora do poder após 15.532 dias de ditadura, o paradeiro de Kadafi segue desconhecido - apesar dos esforços do movimento insurgente para localizá-lo - e segue prometendo retornar. Seu porta-voz, Moussa Ibrahim, afirmou que 6,5 mil partidários do regime estão prontos para "transformar a Líbia num vulcão de lava e chamas sob os pés dos invasores".O chanceler Al-Obeidi, no entanto, diz que os ministros de Kadafi perderam contato entre si e o ditador teria perdido a oportunidade de deixar o país numa saída negociada com os rebeldes do Conselho Nacional de Transição (CNT). "Eu não estou em contato com ninguém, logo parece ter passado o momento para esse tipo de solução", reconheceu.Apesar da preocupação com o paradeiro do ditador e de diferentes focos de resistência em pontos da capital, as ruas de Trípoli indicam que o regime começa a se tornar passado. Ontem, o Estado verificou o predomínio absoluto dos insurgentes em Bab al-Azizia, o complexo fortificado de Kadafi, símbolo máximo do regime. Por trás das muralhas do bunker, prédios destruídos por bombardeios da Otan e saqueados pela ofensiva rebelde de terça-feira reafirmam a derrocada da ditadura (ver mapa na página A16). Roupas e uniformes militares abandonados se espalham pelo chão, em sinal de retirada às pressas. No chão, um documento mostra o desespero da resistência kadafista: um manual, escrito em árabe e ilustrado com desenhos, mostra como manusear um fuzil. No edifício principal, que se conecta a túneis subterrâneos pelos quais Kadafi poderia ter fugido, o museu em louvor à resistência contra os ataques americanos dos anos 80 está em ruínas. Sobre o punho que esmagava um avião de caça, o monumento maior da resistência líbia, insurgentes se revezam escalando-o, em atos de hostilidade que ignoram a suposta presença de atiradores de elite na região. "Kadafi acabou, graças a Deus!", gritava Wael al-Hen, de 18 anos, misturando inglês e árabe e disparando freneticamente para o alto com sua Kalashnikov. Em contraste com a excitação dos insurgentes nos prédios do bunker, nos portões e nos fundos da fortaleza, rebeldes se mobilizavam, com armamento pesado - como artilharia antiaérea -, para continuar a enfrentar os focos de resistência. Mesmo ferido por um disparo na perna num combate em Misrata, Abdul Mohamed, de 30 anos, portava sua metralhadora às portas do QG: "O importante é acabar de derrubar Kadafi", disse.

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