Chanceler tenta minimizar críticas de Cavallo ao Brasil

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Por Agencia Estado
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Mais uma vez o chanceler Adalberto Rodríguez Giavarini teve de agir rapidamente para apagar o incêndio da nova crise que estava sendo criada pelo ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo. Na quarta-feira, o polêmico ministro criticou a desvalorização do real e afirmou que, se o Brasil "perserverar com sua política de desvalorização", a Argentina "terá que pensar de forma muito sensata a relação" com o principal sócio do Mercosul. Com a forte reação que as declarações de Cavallo causaram no Brasil, Giavarini se atarefou nesta quinta-feira para acalmar os ânimos, afirmando que "não consegue imaginar a Argentina sem o Brasil e o Brasil sem a Argentina". Problema específico O chanceler sustentou que "não se deveria confundir um problema específico da agenda macroeconômica, como é o tipo de câmbio, com o grau de importância que o Mercosul possui em seu conjunto e especialmente, em sua especial relação preferencial com o Brasil". Para Giavarini, "a relação com o Brasil deve ser analisada desde uma perspectiva global e não somente econômica". Nos últimos cinco meses, Cavallo e Giavarini entraram em colisão por causa do Mercosul: o ministro da Economia o atacou várias vezes, afirmando que é preciso torná-lo uma área de livre comércio, enquanto o chanceler sustentou que era preciso aperfeiçoar a união alfandegária. Cavallo, em um almoço com empresários, também havia afirmado que "muito em breve, talvez daqui a poucos meses, teremos que optar por uma eficaz coordenação de políticas macroeconômicas com o Brasil, ou reformular a relação comercial que temos com eles". Empresários apóiam Cavallo Os empresários argentinos apoiaram nesta quinta-feira as críticas disparadas contra o Brasil e se interessaram pela idéia de implementar uma banda cambial, que se for superada por uma eventual desvalorização do real, implicará uma compensação alfandegária à Argentina. O argumento é que o Mercosul deveria aplicar um sistema de compensações similar ao que existiu em uma época na União Européia. O vice-presidente de um dos principais holdings do país, o Pérez Companc, Oscar Vicente, declarou que é preciso "ver como mantemos os preços relativos, caso contrário, cada vez que o Brasil desvalorizar nos coloca fora de campo e não podemos competir". Sistema de bandas Vicente concordou com a idéia do ministro de estabelecer um sistema de bandas. No entanto, afirmou que dificilmente o Brasil aceitaria uma medida desse gênero. Apesar dos problemas, Vicente sustentou que o Mercosul não pode terminar. "De forma alguma, pois temos muito comércio com o Brasil. Não convém nem aos argentinos nem aos brasileiros." O presidente da Fiat, Cristiano Ratazzi, concordou. "O Brasil é muito importante para a Argentina, mas chegou o momento de buscar a integração com outros países." O presidente da Câmara de Exportadores, Enrique Mantilla, disse que os governos dos países sócios do Mercosul precisam ser "sinceros" e admitir que "não há nenhuma experiência de sucesso de união alfandegária sem paridade cambial. É preciso conseguir uma política de união alfandegária, que até agora não existe". Mantilla destacou a importância do Mercosul, e afirmou que, sem uma união alfadengária, "a Argentina iria para as negociações da ALCA muito enfraquecida". No entanto, diversos setores empresariais, embora apóiem a idéia de uma banda cambial para o Mercosul e de uma postura rígida contra as desvalorizações do real, consideram que o governo argentino "não se mexerá" para conseguir esse objetivo. Héctor Motta, presidente da Câmara de Produtores Avícolas, afirmou que "o diagnóstico de Cavallo está certo, mas falta decisão política". Avícola O setor avícola foi um dos que mais conflitos comerciais teve com o Brasil na última meia década. Os produtores argentinos de frango afirmavam que o país estava sofrendo "uma invasão" de frangos "made in Brazil". O setor de calçados é outro dos setores de eternos conflitos com o Brasil. Os fabricantes desse produto argumentam que havia um acordo entre os dois países -que fixava cotas para os calçados do Brasil no mercado argentino - que teria sido desrespeitado pelos produtores brasileiros. Carlos Bueno, presidente da Câmara da Indústria do Calçado (CIC) definiu-se como cético em relação às declarações do polêmico ministro. "Cavallo já falou várias vezes sobre isso. E nunca fez nada."

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