Chávez adverte que triunfo eleitoral de opositores seria ruína da ''revolução''

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Por João Paulo Charleaux
Atualização:

Apenas uma semana separa a Venezuela da eleição parlamentar que pode dar novo fôlego ao presidente Hugo Chávez ou precipitar a decadência do venezuelano, que está há 11 anos ininterruptos no poder. Na história recente da América do Sul, apenas dois líderes governaram por tanto tempo: o chileno Augusto Pinochet (1973-1990) e o paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989) - dois ditadores.Mais do que escolher os 167 novos membros da Assembleia Nacional - única instância parlamentar de um país que extinguiu o Senado, em 1999 -, os venezuelanos devem mostrar o grau de polarização da vida política do país até as eleições presidenciais de 2012, às quais Chávez já se lançou como candidato, apesar de sua popularidade, que já foi de 75% em 2006, não passar hoje de de 44%, segundo o Datanálisis.Atualmente, quase todos os parlamentares venezuelanos são chavistas. A oposição boicotou as eleições legislativas, há cinco anos, pregando a abstenção e acusando a Justiça eleitoral do país de fraude. Agora, mudou sua estratégia e espera conquistar entre 57 e 50 cadeiras. Um avanço como esse tiraria de Chávez a maioria de dois terços e o obrigaria a negociar ou apostar ainda mais na radicalização.O líder venezuelano sabe que, se perder o controle do Legislativo, seu plano socialista "começará a desmoronar", como ele mesmo disse na sexta-feira, em um comício eleitoral em Caracas. "É preciso manter a hegemonia para, assim, garantir a continuidade da gloriosa revolução bolivariana", disse Chávez.O teste eleitoral que se aproxima voltou a polarizar as opiniões de analistas e eleitores. Os que veem em Chávez um líder socialista e carismático ressaltam o fato de ele ter participado e vencido três eleições presidenciais. Líder de uma tentativa de golpe de Estado, em 1992, ele resistiu a outro movimento golpista em 2002. Vitórias. Seu partido saiu vitorioso em duas eleições regionais, controla 17 dos 24 Estados venezuelanos e governa 80% das cidades do país. Até mesmo o direito de disputar um número ilimitado de eleições foi garantido por plebiscito, nas urnas, sob a chancela de observadores internacionais independentes (mais informações na página 21).No entanto, o extenso currículo eleitoral não é, por si só, garantia de que exista uma democracia plena na Venezuela. Ao contrário, a oposição acusa Chávez de afastar-se cada vez mais do modelo democrático, atacando a liberdade de imprensa e a independência dos poderes, perseguindo juízes, prendendo opositores e sindicalistas, arruinando a economia e permitindo que o país bata todos os recordes de insegurança - o número de assassinatos pulou de 4 mil, em 1999, para 16 mil, em 2009."Eleições não são o único termômetro da democracia. É preciso saber como Chávez construiu o cenário que permitiu que ele garantisse todas essas vitórias", disse ao Estado Carlos Correa, do Centro de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da Universidade Andrés Bello, de Caracas. "Por outro lado, não se pode dizer que atitudes, como a tomada pela oposição há cinco anos, boicotando uma eleição parlamentar, seja algo correto sob o que consideramos uma democracia saudável."Na Venezuela, não há debates eleitorais televisionados nem horário eleitoral gratuito. Como ferramenta de propaganda, o governo usa o fato de parte da imprensa privada ter apoiado o golpe de 2002 para cassar concessões, criar leis que impedem a publicação de notícias negativas e negar entrevistas aos jornalistas locais ou estrangeiros. Nas raras vezes em que é confrontado por uma pergunta crítica, Chávez esquece o assunto em debate e passa a atacar a imprensa de forma geral e, invariavelmente, o jornalista com quem está falando."Qualquer um que fale contra o governo é imediatamente classificado como traidor e lacaio do império americano. A estratégia do governo tem sido a de radicalizar cada vez mais, criminalizando a oposição, como se não houvesse alternativa honesta ao que temos hoje", disse Correa.

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