Chávez, agora, quer volta de petroleiras

Venezuela abre concorrência para reagir à crise no setor

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Por Simon Romero e CARACAS
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O presidente venezuelano, Hugo Chávez, preocupado com a queda dos preços do petróleo que ameaça desmantelar seus esforços para estabelecer um Estado de inspiração socialista, está mais uma vez cortejando companhias de petróleo ocidentais. Até recentemente, Chávez vinha acuando as companhias petrolíferas estrangeiras no país com a nacionalização de seus campos de petróleo, invasões de seus escritórios por autoridades fiscais e a imposição de uma série de aumentos de royalties. Mas em face do colapso dos preços e de uma queda na produção doméstica, autoridades venezuelanas começaram a solicitar ofertas de algumas das maiores companhias de petróleo do Ocidente nas últimas semanas - entre elas Chevron, Royal Dutch/Shell e Total -, prometendo-lhes o acesso a algumas das maiores reservas de petróleo do mundo, segundo executivos do setor de energia. A mudança revela como a crise financeira global está dificultando a agenda ideológica de Chávez. O que está em jogo não é apenas a estabilidade econômica da Venezuela e a sustentabilidade de seu regime. Com preços do petróleo tão baixos, os velhos problemas que assolam a Petroleos de Venezuela (PDVSA), a companhia estatal de petróleo, tornaram-se mais difíceis de ignorar. Acolher as companhias ocidentais pode ser a única maneira de escorar a PDVSA e a batelada de programas de bem-estar social, como saúde e educação superior para os pobres, bancados pela receita do petróleo e que ajudaram a fortalecer o apoio popular ao regime. "Se um novo envolvimento com companhias de petróleo ocidentais for necessário para sua sobrevivência política, então Chávez o fará", disse Roger Tissot, especialista da Gas Energy, empresa de consultoria brasileira. Nos últimos anos, Chávez deu preferência a parcerias com companhias nacionais de petróleo de países como Irã, China e Bielo-Rússia. Mas essas joint ventures não conseguiram reverter o declínio da produção de petróleo da Venezuela. O processo de concorrência foi concebido inicialmente no ano passado quando os preços do petróleo estavam mais altos, mas estava se tornando impossível ignorar o declínio da produção da PDVSA. O processo só ganhou impulso, porém, neste mês, com o início da avaliação pelas autoridades venezuelanas dos planos das companhias interessadas para novas áreas na Faixa do Orinoco, uma região no sul da Venezuela com estimados 235 bilhões de barris de petróleo recuperável. Mais de US$ 20 bilhões em investimento poderiam ser necessários para montar os projetos complexos capazes de produzir um total combinado de 1,2 milhão de barris de petróleo por dia.

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