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Chávez aposta em programas sociais para tentar reeleição

Chamados de 'missões', projetos têm amplo apoio das camadas mais pobres da população.

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CARACAS - De olho na reeleição, o governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vem apostando suas fichas em uma estratégia que pode representar um diferencial no pleito previsto para ocorrer no próximo fim de semana: os programas sociais. Os projetos variam da construção de conjuntos habitacionais a mutirões de ajuda médica e de escolarização, atentendo a milhões de venezuelanos que não têm acesso a esses recursos.

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Veja também: link Diante de avanço da oposição, Chávez faz apelo ao patriotismo de eleitores link Chavistas tentam dar o troco na oposição na maior favela da VenezuelaOs programas são a principal aposta das políticas de Chávez desde que ele chegou ao poder em 1999, e podem, segundo analistas, ajudá-lo nas eleições presidenciais de 7 de outubro. A promessa do "Comandante", como o presidente é conhecido popularmente, para ganhar mais eleitores segue uma lógica simples: usar o dinheiro que a Venezuela recebe das vendas de petróleo para financiar a permanência dos programas sociais. "Esse é o primeiro governo que está usando tais recursos para solucionar problemas sociais e tirar pessoas da pobreza", elogia Rafael Antolinez, um economista pró-Chávez. "Havia uma classe rica que sempre governou a Venezuela. Isso acabou com a chegada de Chávez ao poder." Apoio popular Eleitora de Chávez, a venezuela Elsi concorda. Orgulhosa do novo apartamento para o qual se mudou com a família nos subúrbios da capital Caracas, ela não tem dúvida a quem deve agradecer. "Hugo Chávez", afirma, sem titubear. Elsi diz acreditar que o líder venezuelano será reeleito nas próximas eleições presidenciais e espera continuar se beneficiando das políticas sociais de Chávez em um novo mandato de seis anos. Ela mora em Cacique Tiuna, um dos milhares de conjuntos habitacionais construídos durante a administração chavista. O projeto, conhecido como "las missiones" (ou missões, na tradução livre), ganhou popularidade especialmente entre as camadas mais pobres da população do país. Apesar do sucesso, os programas não são unanimidade entre a população do país. O venezuelano Gilberto Ban, que passou os últimos dez anos trabalhando em projetos comunitários nas favelas do país, considerava o presidente Hugo Chávez um "parceiro" na luta contra a pobreza endêmica que assola a Venezuela. Mas agora mudou de ideia. "As pessoas tratam Chávez como um Deus. Há pessoas que primeiro o tratam de 'meu Deus', para depois chamá-lo de 'meu comandante'", afirma. "Chávez mente - e as pessoas aceitam isso." A crítica de Ban, no entanto, não está relacionada apenas à honestidade e ao ego do líder venezuelano. Chávez, insiste o ativista, "tem se tornado tão obcecado com sua imagem de 'salvador dos pobres' que o atual conteúdo dos seus programas sociais não está recebendo nenhuma atenção". "As missões são respostas para problemas imediatos", acrescenta Ban. "Não são programas concebidos para resolver os desafios relacionados à educação, à saúde, ao trabalho e à habitação." Diversificação econômica Até mesmo o candidato de oposição, Henrique Capriles, já afirmou que continuará as "missões" se eleito. Para especialistas, Capriles não tinha escolha senão apoiar o programa social do adversário político, para não perder eleitores potenciais. O rival de Chávez, no entanto, já reiterou por diversas vezes que tocará os projetos de maneira mais "eficiente e efetiva". A oposição também manifesta preocupação com a forma como o governo chavista administra a economia da Venezuela. "O país tem aumentado a sua dependência do petróleo", diz a porta-voz da coalizão de oposição, Sara Levy. "Ao apostarmos nossa fichas em apenas um produto, qualquer flutuação em seu preço nos deixa extremamente vulneráveis." Segundo Levy, o governo chavista falhou em desenvolver outros setores na Venezuela durante os últimos 14 anos. "Era preciso diversificar a economia", defende a porta-voz da oposição. Campanha À medida que as eleições se aproximam, o debate entre os candidatos torna-se cada vez mais inflamado. O governo de Chávez tem sido criticado pela falta de transparência nos negócios de compra e venda de petróleo. Além disso, membros do governo e autoridades oficiais são seguidamente acusados de corrupção. Há também críticas constantes dos políticos de oposição sobre a limitação do acesso à imprensa. Como presidente, Chávez obriga os canais de televisão a transmitirem seus pronunciamentos em qualquer horário. A oposição reclama que só possui três minutos por dia de propaganda política e, mesmo assim, paga. Capriles também tem outros grandes desafios pela frente. Ao prometer um projeto de poder mais capitalista rumo à prosperidade, ele enfrenta a acusação de ser uma "marionete" de multinacionais multimilionárias, especialmente de companhias baseadas nos Estados Unidos. Para tanto, o candidato de oposição tem feito de tudo para se desgarrar de uma imagem amigável aos Estados Unidos. Ele não dá entrevistas em inglês, por exemplo, idioma no qual é fluente. Incerteza pós-eleitoral Mais do que preocupação sobre os rumos do debate eleitoral, os eleitores venezuelanos têm demonstrado temor sobre uma possível agitação civil frente aos resultados da eleição. Há um consenso de que uma vitória inquestionável de qualquer um dos lados será respeitada, mas uma disputa acirrada, voto a voto, poderia provocar confrontos, segundo analistas políticos. Para eles, há setores das Forças Armadas que são mais leais a Chávez do que à instituição governamental e podem não aceitar uma cara nova no poder. E se Capriles reivindicar a vitória, seus partidários vão exigir a tranferência total de poder. A eleição de domingo vai marcar o fim da disputa eleitoral, mas o que virá a seguir ainda é motivo de incerteza.

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