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Chávez chama o rei da Espanha de golpista

Venezuelano acusa Juan Carlos de participação no golpe de 2002

Por SANTIAGO
Atualização:

As relações entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o governo espanhol ficaram ainda mais tensas ontem, quando o venezuelano insinuou que o fracassado golpe de Estado cometido em Caracas, em 2002, teve a aprovação do rei Juan Carlos I. A acusação veio um dia depois de um inusitado bate-boca entre Chávez e o monarca espanhol, durante o encerramento da 17ª Cúpula Ibero-americana, em Santiago, no Chile. A reunião de cúpula que reunião os principais líderes latino-americanos, portugueses e espanhóis estava no fim quando Chávez começou a atacar duramente o ex-primeiro-ministro da Espanha José María Aznar (1996-2004). O presidente venezuelano chamou Aznar de "fascista" e o acusou de ter apoiado o golpe ocorrido na Venezuela, em abril de 2002. O atual premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, tomou as dores de Aznar, que é seu adversário político na Espanha. Zapatero queixou-se dos ataques gratuitos de Chávez e exigiu respeito, já que Aznar "foi eleito pela maioria do povo espanhol". "Senhor Chávez, podemos discordar radicalmente das idéias de uma pessoa. Mas para respeitar e sermos respeitados, não podemos nunca desqualificar essa pessoa", disse Zapatero. O presidente venezuelano respondeu, afirmando que tinha direito de se expressar e voltou a dizer que Aznar era um "fascista". Nesse momento, o rei espanhol, em um rompante de fúria, raro em sua personalidade conciliadora, apontou o dedo para Chávez e disse: "Por que você não se cala?" Em seguida, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, desandou a criticar a atuação da política exterior espanhola, que, segundo ele, coordenou uma frente, junto com os EUA, que incentivou a população nicaragüense a não votar nos sandinistas, grupo político de Ortega. No meio do discurso do presidente da Nicarágua, Juan Carlos, visivelmente irritado, deixou a sala de reunião. De acordo com Zapatero, o rei Juan Carlos tomou essa atitude para "manifestar o mal-estar da delegação espanhola" causada pelas críticas feitas durante a cúpula. CHÁVEZ CONTRA O REI Ainda na noite de sábado, logo após o incidente, Chávez criticou o comportamento do rei Juan Carlos e afirmou que o monarca não tinha o direito de ter se portado daquela maneira. "Estava dizendo a verdade. Portanto, não tenho nada a responder ao rei", disse o presidente, que fez questão de reiterar todas as críticas que havia feito a Aznar. Ontem, Chávez colocou mais lenha na fogueira e voltou a disparar contra o rei, dizendo que Juan Carlos não tinha o direito de lhe mandar ficar quieto. "Exijo respeito porque também sou um chefe de Estado", afirmou o venezuelano. "Ele (o rei) é tão chefe de Estado quanto eu. Aliás, a diferença entre nós é que eu fui eleito três vezes pelo povo da Venezuela." APOIOS Ontem, Chávez recebeu o apoio do líder cubano, Fidel Castro, que elogiou a atuação do venezuelano na reunião do Chile. "A crítica de Chávez à Europa foi demolidora", afirmou Fidel em mais um de seus artigos publicados na imprensa oficial cubana. No entanto, o presidente afastado de Cuba preferiu não mencionou a troca de farpas entre Chávez e Juan Carlos. A delegação espanhola recebeu grande respaldo na Espanha. O principal jornal espanhol, El País, afirmou que o rei "representou seu papel", mas que sua atuação intempestiva o havia deixado muito exposto. O jornal El Mundo publicou a manchete: "As cinco palavras que Chávez merecia escutar há muito tempo." Aznar também manifestou seu apoio ao rei e a Zapatero, a quem telefonou para agradecer a defesa feita as críticas contra ele. Zapatero agradeceu o telefonema de Aznar e aproveitou para assegurar que o incidente envolvendo figuras políticas dos dois países não vai causar efeito algum nas relações entre Espanha e Venezuela. MAIS ATAQUES Entretanto, se depender de Chávez, o assunto não morreu. Ontem o presidente venezuelano afirmou que Manuel Viturro, embaixador espanhol na Venezuela na época do golpe de abril de 2002, sabia da conspiração contra ele e teria acompanhado o presidente interino Pedro Carmona ao Palácio Miraflores. "Senhor rei, responda. O senhor sabia do golpe de Estado contra a Venezuela, contra seu governo democrático e legítimo?", disse Chávez ontem antes de deixar Santiago. "É muito difícil pensar que o embaixador espanhol esteja no palácio, apoiando os golpistas, sem a autorização de sua Majestade, já que é o rei quem dirige a política exterior da Espanha." A presença de Viturro no palácio durante o golpe, no entanto, nunca foi confirmada. Em 11 de abril de 2002, Chávez foi destituído do poder após Carmona ser nomeado presidente interino e assinar um decreto suspendendo a Constituição venezuelana e dissolvendo o Congresso. O novo governo chegou a ser reconhecido pelos EUA. Dois dias depois, o golpe fracassou e Chávez voltou ao poder. AP, AFP, EFE E REUTERS

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