PUBLICIDADE

Chávez dá ''bíblia'' da esquerda a Obama

Encontro ocorre em clima amigável

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Em fase paz e amor, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, apertou a mão do americano Barack Obama, deu-lhe um tapinha nas costas e o presenteou com um exemplar de As Veias Abertas da América Latina: Cinco Séculos da Pilhagem de um Continente. O livro, escrito pelo uruguaio Eduardo Galeano em 1971, é a "bíblia" da esquerda latino-americana, um libelo contra a exploração do continente pelas potências europeias e pelos EUA. A obra ataca o papel de Washington no empobrecimento da América Latina. Obama não pareceu ter se ofendido, mantendo um largo sorriso depois de cumprimentar Chávez em espanhol: "Como estás?" A Casa Branca não acreditou muito na fase zen do venezuelano, que expulsou o embaixador americano em 2008 após dizer que Chávez estava tentando pegar carona na popularidade de Obama. "É de seu interesse ser visto com nosso presidente", disse Jeffrey Davidow, assessor da Casa Branca para a Cúpula das Américas. Para outro funcionário da Casa Branca, a entrega do livro foi uma maneira de Chávez receber atenção da imprensa. "Se há uma câmera por perto, Chávez achará um jeito de ficar na frente dela", disse. Interesse político ou não, o fato é que o tom amigável marcou a reunião do presidente americano com os líderes da Unasul ontem. Chávez, que fez comentários sobre o cheiro de enxofre do ex-presidente George W. Bush, a quem chamava de "diabo", era todo elogios para Obama. "Acho que ele é um homem inteligente, ao contrário do presidente anterior", afirmou. Mas o venezuelano não mudou completamente de personalidade. "Obama disse que não podemos ficar presos à história, mas isso é relativo. Todos pediram o levantamento do embargo. Obama deve fazê-lo. Não tem desculpa se não o faz", disse Chávez. Na noite anterior, Obama havia declarado que busca um "novo começo" nas relações com Cuba, mas não prometeu pressionar o Congresso para derrubar o embargo à ilha e nem apoiar a readmissão do país à OEA. Ele reconheceu que, dadas as "suspeitas históricas", a política dos EUA não deve ser de interferência em outros países. Obama deu a entender que, juntamente com o fim do intervencionismo americano, os países latino-americanos não mais poderiam esperar que os EUA assumissem uma posição de salvador da pátria na região. Ele tentou aliviar o peso de ser considerado uma "potência imperial". "Fomos todos colonizados por impérios e conseguimos nossas próprias libertações", disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.