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Chávez desintegra América Latina, diz Toledo

"Eu sou um defensor veemente da integração, mas sou um guerreiro contra a intervenção"

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente peruano Alejandro Toledo acredita que seu colega venezuelano, Hugo Chávez, dificulta a integração latino-americana. "É muito curioso que o presidente Chávez seja do país de um líder integrador, como Bolívar, mas trate de desintegrar a América Latina, intrometendo-se nos assuntos internos (dos demais países)", disse Toledo, em entrevista exclusiva à BBC Brasil, em seu gabinete presidencial, em Lima, nesta terça-feira. Toledo disse que seu país vai intensificar o eixo latino-americano com o Brasil, Argentina e Chile, depois da eleição, no último domingo, de seu sucessor na Presidência, Alan García. "Acho que esse é o nexo mais sério e responsável (da região)", disse. "Acho que o presidente Lula, por exemplo, administra a integração da América Latina com responsabilidade", afirmou. Integração Na entrevista exclusiva, Toledo insinuou que esse "eixo" vai se opor ao estilo "populista e de intervenção" do presidente venezuelano, Hugo Chávez. "Eu sou um defensor veemente da integração, mas sou um guerreiro contra a intervenção. Não permito isso ao presidente Chávez e lhe disse isso. Achei muito ruim quando ele disse que romperia relações com o Peru se vencesse o outro candidato (García)", disse. Durante a campanha eleitoral, Chávez pediu votos para o então presidenciável Ollanta Humala e disse que seu governo iria romper relações com o Peru, caso García fosse eleito. Para Toledo, teria sido "um desastre" se Humala tivesse chegado à presidência. E quando respondia sobre Humala, o presidente aproveitou para fazer nova crítica a Chávez: "É um grave erro esse populismo barato dos que acreditam que com ´petrodólares´ podem eliminar a pobreza. Sai muito caro para os pobres". Segundo Toledo, a América Latina precisa de governos "socialmente responsáveis", que entendam que o crescimento econômico seja apenas um instrumento para melhorar o social. O presidente, que entrega o cargo ao sucessor no dia 28 de julho, reconheceu que é preciso estar "muito atento? aos votos dados à Humala em quinze dos vinte e cinco departamentos do país. "É um grito que deve ser ouvido. É preciso prestar atenção e, principalmente, nos departamentos mais pobres". Herança Toledo disse que como herança deixará a Alan García, do Apra, uma economia sólida, com crescimento sustentável, uma democracia intacta, um país inserido na comunidade democrática internacional e com credibilidade no sistema financeiro internacional. Mas porque os índices de pobreza não caíram no mesmo ritmo que os 56 meses de expansão econômica do país? "Por que decidi ser um presidente que planta. O próximo presidente vai colher o que plantamos. Em 2001, quando assumi, a pobreza era de 54% e agora de 48%. Falta muito, eu sei, mas vamos melhorando. A pobreza extrema era de 24% e agora é de 18%, queda de 6%. Mas falta muito, insisto". Entre as medidas que adotou, disse, para reduzir a carência social estão a eletrificação nas regiões rurais e a entrega de títulos de propriedades aos campesinos. Toledo governou o país, durante quase todo seu mandato, com cerca de 7% de apoio popular - o mais baixo de um presidente na América Latina, segundo institutos de opinião. E chegou-se a especular, várias vezes, que não terminaria o mandato. Mas a menos de dois meses de entregar o cargo, sua popularidade subiu e está em torno dos 35%. Fato que levou a imprensa peruana a especular sobre seu retorno ao poder, o que o presidente não descarta: "Paguei um preço alto com minha popularidade. Agora, me dizem ´cholo´ (os das regiões de montanhas) não se vá. Mas é prematuro falar de candidatura".

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