Chávez encerra campanha em Caracas sob acusação de uso da máquina estatal

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Por Roberto Lameirinhas e CARACAS
Atualização:

O presidente venezuelano e candidato à reeleição, Hugo Chávez, reuniu ontem uma multidão estimada por seus assessores em 500 mil pessoas na Avenida Bolívar, no centro de Caracas, no ato de encerramento de sua campanha para a votação deste domingo. Ao mesmo tempo, o candidato opositor, Henrique Capriles Radonski, fazia sua última manifestação eleitoral, também numerosa, no oeste do país (mais informações na página A14).A festa chavista na capital motivou uma série de denúncias da oposição - entre as quais as que envolviam o uso de recursos do Estado para trazer militantes de outras regiões e o constrangimento a funcionários públicos, obrigados por seus chefes a comparecer ao evento de campanha do presidente. Em Zulia, o dirigente do sindicato dos petroleiros Rafael Zambrano afirmou que trabalhadores da Petróleos de Venezuela (PDVSA) ganharam folga de dois dias para assistir ao comício. Além disso, a estatal petrolífera arcou com o custo do aluguel dos ônibus fretados para o transporte de manifestantes.A federação dos sindicatos dos petroleiros, de oposição a Chávez, estima que apenas os dias parados dos trabalhadores devem custar aos cofres da PDVSA mais de US$ 2,5 milhões. "O controle de presença é muito rigoroso", declarou Zambrano em entrevista à emissora de TV Globovisión. "Listas são passadas quando os funcionários entram nos ônibus, na chegada a Caracas e no momento de entrega das refeições. A ausência pode causar sanções que vão da suspensão de promoções até a demissão sob qualquer pretexto."Do palanque governista, o ex-chanceler e ex-vice-presidente José Vicente Rangel qualificou de "rumores e mentiras" as denúncias da oposição. "Aqui, ninguém que veio obrigado. Aqui está a gente que luta por seus direitos e sabe que a pátria não se vende nem se compra", discursou.Analistas ouvidos pelo Estado consideraram secundárias as denúncias feitas pelos opositores. "O uso de ônibus para facilitar o transporte de manifestantes nunca foi incomum na Venezuela e as denúncias de que a operação é financiada pelos cofres do Estado não são fáceis de provar. Muito mais problemático que isso é o conteúdo do discurso do candidato à reeleição, que vem acirrando a retórica do enfrentamento", afirmou o cientista político Carlos Ramos Ortíz, da consultoria Chance.Alheios à polêmica, os chavistas começaram a tomar conta da Avenida Bolívar já pela manhã. O normalmente caótico trânsito caraquenho se tornou ainda mais complicado e a autopista que interliga as partes leste e oeste da capital se converteu praticamente em um único e imenso estacionamento. "Derrotaremos o 'majunche' (o insulto que pode ser traduzido como 'imbecil' e pelo qual os chavistas se referem a Capriles) por nocaute, não podemos deixar que ele acabe com a nossa revolução", gritava uma senhora de meia-idade, totalmente paramentada com os símbolos chavistas: boné, lenço de pescoço e camiseta vermelhos. Chávez chegou ao palanque meia hora depois de uma fortíssima chuva, que não dispersou a maré humana vermelha. Usando jaqueta preta, cantou o hino nacional sob a chuva, acompanhado pela multidão. "Viva a chuva! Chegou a avalanche bolivariana, compadre!", saudou. Depois de cantar e demonstrar vigor - apesar do câncer pélvico do qual se trata há mais de um ano -, Chávez voltou a afirmar que o que estará em jogo no domingo "é a independência e a vida da Venezuela". "Fizemos a Venezuela ressuscitar. Não permitiremos agora que liquidem outra vez esse país."

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