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Chávez enfrenta pressão de trabalhadores e sindicatos

Protestos e ameaças de greve em estatais multiplicam-se

Por RUTH COSTAS COM AFP E AP
Atualização:

Com seus cofres esvaziados pela queda dos preços do petróleo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, vem enfrentando intensa pressão de sindicatos e trabalhadores. Empregados de diversas estatais - desde o metrô de Caracas até empresas do setor petrolífero e siderúrgicas - formaram nesta semana o Movimento de Solidariedade Sindical para exigir que o governo cumpra os benefícios previstos em contratos coletivos. Como forma de pressão, protestos e ameaças de greves também se multiplicaram recentemente, tornando-se um dos grandes desafios de Chávez em meio à crise. No setor privado, a situação também é crítica. Desde a semana passada, por exemplo, 25% da produção de carros na Venezuela está paralisada por causa de greves nas montadoras da Toyota e da Mitsubishi. "Os sindicatos foram desmantelados na Venezuela após a greve geral de 2002, que paralisou a produção de petróleo no país", disse ao Estado o economista José Rafael Zanoni, da Universidade de los Andes. Ele explica que muitos líderes sindicais foram demitidos e perseguidos após a greve, que tinha como objetivo desestabilizar o governo. "As associações de trabalhadores, porém, voltaram a ganhar força nos últimos anos, com a reativação da economia. Agora, a novidade é que a crise uniu sindicatos pró e contra Chávez." No caso das estatais, os sindicatos exigem o cumprimento de contratos assinados nos tempos da alta do petróleo, que preveem benefícios como facilidades para a obtenção de empréstimos e bolsas de estudos para filhos de funcionários. No entanto, com o petróleo venezuelano a US$ 38 - em vez dos US$ 60 previstos no orçamento aprovado no ano passado - Chávez tem poucas condições de cumprir os acordos com os empregados das estatais. "Antes de chegar ao governo, Chávez marchou e lutou ao nosso lado", disse Henry Arias, do sindicato da produtora de alumínio Alcasa. "Depois de dez anos, ele está tirando a máscara e atacando os trabalhadores." A resposta de Chávez às ameaças de greve tem sido firme. "Ao que parece, empresas do Estado estão se metendo comigo - e isso é sabotagem, algo que eu não tolero", afirmou, há alguns dias. O presidente ameaçou até militarizar o metrô de Caracas em caso de greve e pediu à agência de inteligência venezuelana para investigar privilégios e casos de corrupção entre líderes sindicais de indústrias como a de alumínio. "Se Chávez insistir na via da confrontação o problema pode se complicar e ganhar uma dimensão mais política", diz Zanoni. "Com os cofres cheios, o presidente podia distribuir favores, ampliar os projetos sociais e agradar a muita gente. Agora, a coisa tende a ficar mais complicada."

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