Chávez expressa mal-estar em relação a Grupo de Amigos

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Por Agencia Estado
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Em meio a um impasse nos diálogos entre o governo e a oposição após três meses de negociações, e sem disfarçar um certo mal-estar com o grupo de países Amigos para a Venezuela - coordenado pelo Brasil e integrado também por EUA, México, Chile, Espanha e Portugal -, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, exortou a comunidade internacional a "conhecer melhor a verdade" sobre o que ocorre em seu país. Num encontro com diplomatas venezuelanos, Chávez pediu a todos os "países amigos" que conheçam os fatos para que possam "ajudar de verdade" e não "complicar ainda mais a situação". "Esse grupo de amigos deveria ser um embrião para que fosse ampliado por outros países amigos da Venezuela, como Cuba, China, Rússia, Argélia, Arábia Saudita e França", disse Chávez, para quem os representantes do grupo atual se precipitaram ao conferir à oposição venezuelana o mesmo grau de legitimidade que ao seu governo. "Na Venezuela não existem duas forças em conflito com o mesmo nível de legitimidade. Aqui há, de um lado, um governo legitimamente constituído e, de outro, setores de oposição, alguns dos quais comprometidos com o golpismo", afirmou. Com o objetivo de facilitar o diálogo entre governo e oposição - mediado pela Organização de Estados Americanos (OEA) -, o grupo de "países amigos" foi formado em atendimento a um pedido feito pelo próprio Chávez ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e consolidou-se durante a posse do presidente equatoriano Lucio Gutiérrez, em janeiro. Dependentes do petróleo e com o país à beira de um colapso, os venezuelanos prepararam-se para tempos difíceis na quinta-feira, quando o governo impôs um perigoso sistema de controles de preços e do câmbio. A maioria dos economistas daqui diz que os controles oferecem parca esperança de fugir ao que está assumindo os contornos de um ano desastroso para a economia da Venezuela - um ano que, segundo eles, poderá redundar na perda de centenas de milhares de empregos, numa inflação de dois dígitos e num possível calote da dívida externa de US$ 19 bilhões, no final deste ano. O desastre da economia é resultado de uma greve geral que durou dois meses e que só agora está acabando, promovida por adversários do presidente Hugo Chávez. Apoiada por 35 mil funcionários da empresa de petróleo estatal, a paralisação não conseguiu tirar Chávez do cargo, mas imobilizou a economia e reduziu a produção de petróleo bruto da Venezuela para uma fração do nível normal, de 3,2 milhões de barris por dia. Economistas da Venezuela e de Wall Street prevêem que a economia do país poderá encolher de 8% a 22% neste ano, dependendo de quanto da produção de petróleo pré-greve poderá ser recuperada, e em quanto tempo. A produção de petróleo e os benefícios indiretos que produz respondem por aproximadamente 40% da produção econômica do país. "Estávamos presenciando a formação de uma tragédia social", disse o economista Orlando Ochoa, que antecipa a perda de 500 mil a 1 milhão de empregos este ano. Chávez anunciou controles sobre a moeda e os preços na quarta-feira à noite, duas semanas depois de ter fechado todas as casas de câmbio. Ele tomou essa medida depois que cerca de US$ 9 bilhões em moeda estrangeira abandonaram o país no período de 13 meses encerrado em meados de janeiro. É a terceira vez que a Venezuela impõe esse tipo de controles desde 1983. Foi estabelecido um valor fixo de 1.600 bolívares por dólar e os preços de um grupo de mercadorias essenciais foi limitado. Embora os controles possam impedir o fluxo de dólares para o exterior, a expectativa é de que provoquem inflação e abram espaço para o surgimento de um mercado negro das mercadorias escassas. A queda das receitas com o petróleo significa que o governo federal talvez tenha um déficit orçamentário de US$ 9 bilhões - uma das razões pelas quais a agência de classificação de risco Standard & Poor?s rebaixou a dívida da Venezuela para CCC+ em dezembro, um sinal de que o calote da dívida em um futuro próximo é uma forte possibilidade. "É a pior classificação que já conferimos dentre os 92 governos que classificamos, com exceção da Argentina, que está inadimplente", disse John Chambers, da S&P. A drástica queda na produção de petróleo lançou a economia numa recessão - a economia encolheu 7,5% em 2002 - e quase todo mundo na Venezuela sente isso. "Nunca vimos uma recessão como esta", disse Inaki Alverdi, gerente-geral da agência de turismo Alpitour, de Caracas. "Se os negócios tiverem um declínio de 40% neste ano em relação ao ano passado, então já terá sido bom. Todas nossas reservas para janeiro, fevereiro e março foram canceladas". A taxa de câmbio do bolívar, estabelecida pelo novo regime de controle de câmbio, é consideravelmente inferior à do último fechamento ,em 1.853 bolívares para um dólar no mercado livre e muito distante do valor do dólar no mercado negro, que gira em torno de 2.500 bolívares para um dólar. Chávez também escolheu pessoalmente os cinco integrantes da Comissão de Administração da Moeda, um grupo encarregado de distribuir dólares entre empresas privadas e indivíduos. As empresas dizem que o gerenciamento do câmbio por parte do governo terá poderes discricionários que favorecerão amigos do governo e castigarão a oposição. Além das mercadorias básicas, os medicamentos e aluguéis residenciais terão seu preço controlado para impedir aumentos exagerados.

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