Chávez fortalece opositores do bolivarianismo

Influência do presidente venezuelano dá munição para os adversários de seus aliados na região

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Por Cristiano Dias
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Uma aliança com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, oferece um claro benefício imediato: a entrada de recursos provenientes do petróleo. O bolivarianismo também põe à disposição de seus seguidores uma cartilha sobre como se manter no poder. Mas um pacto com Chávez traz também uma contraindicação: reacende a oposição contra os devotos do chavismo. Com os EUA atolados em duas guerras e distantes de seus vizinhos de continente, a válvula de escape para os governos da América Central nos últimos anos foi o presidente da Venezuela. Com o petróleo perto de US$ 150 o barril, em julho de 2008, Chávez oferecia recursos em troca de influência. Para quem estava com o pires na mão, como o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, a aliança com Chávez foi uma saída pragmática. "Zelaya nunca foi um líder de esquerda. Ele é um político de direita que fez uma aliança de ocasião com Chávez", disse ao Estado Marco Antonio Villa, professor de História da Universidade Federal de São Carlos. "Mas o pavor da elite política hondurenha de que o país repetisse a trajetória bolivariana de outros países desestabilizou Zelaya." Assim como em Honduras, a influência de Chávez virou munição para opositores em outros países da região. Na Argentina, Cristina Kirchner virou alvo dos adversários por causa de uma mala com US$ 800 mil que teria sido enviada por Chávez. No Equador, Rafael Correa foi acusado de emular o guru venezuelano ao perseguir a imprensa e expulsar os EUA da Base Aérea de Manta. Na Bolívia, Evo Morales nacionalizou empresas, escreveu uma nova Constituição e transformou o antichavismo em bandeira da oposição boliviana. Prejuízo maior, porém, teve Ollanta Humala, candidato presidencial derrotado no Peru, em 2006. Humala foi apoiado por Chávez, fato que foi explorado por Alan García, que venceu as eleições. MOVIMENTOS ARRISCADOS CRONOLOGIA 2005 - Manuel Zelaya vence a eleição presidencial 2009 - Às vésperas do fim de seu mandato, Zelaya convoca referendo para permitir reeleição. Votação seria no domingo Terça-feira - Parlamento rejeita plebiscito. Suprema Corte e Exército declaram a votação ilegal Quarta-feira - Zelaya destitui o chefe das Forças Armadas, Romeo Vásquez. O ministro da Defesa os chefes da Marinha e da Aeronáutica pedem demissão Quinta-feira - Justiça ordena a restituição de Vásquez Sábado - Zelaya diz ter controle do país Domingo - Presidente é derrubado e enviado para a Costa Rica Ontem - Manifestantes e militares se enfrentam nas ruas da capital Tegucigalpa EFEITO COLATERAL Argentina - Mala com US$ 800 mil, supostamente enviada por Chávez, prejudica imagem de Cristina Kirchner Bolívia - Nacionalizações e nova Carta viram munição de opositores Equador - Assim como Chávez, Correa é acusado de perseguir a imprensa local Peru - Apoio de Chávez a Ollanta Humala é usado por Alan García para vencer eleições de 2006

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