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Chávez já admite antecipar eleições

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo venezuelano já cogita a possibilidade de aceitar a inclusão de uma emenda à Constituição Bolivariana - ou até mesmo uma reforma constitucional - que permita antecipar as eleições no país. A proposta, elaborada por um deputado governista na Assembléia Nacional, é uma das hipóteses que vêm sendo trabalhadas para acabar com a crise política e institucional iniciada em 2 de dezembro, quando grupos de oposição que exigem a renúncia do presidente Hugo Chávez decidiram paralisar o país. "Apesar disso, Chávez ainda trabalha com um horizonte maior, para agosto de 2003, quando será realizado um referendo revogatório, determinado pela própria Constituição", relatou Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais do Partido dos Trabalhadores e enviado especial do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a Caracas, logo depois de um encontro de pouco mais de uma hora com o presidente venezuelano no Palácio de Miraflores, sede do governo. Segundo Garcia, a possibilidade de uma emenda à Constituição desencadearia um debate político-eleitoral no país, o que seria uma saída para crise. Já uma reforma da Constituição possibilitaria, em uma segunda instância, mudanças para, por exemplo, reduzir de seis para quatro anos o mandato presidencial, além da inclusão de um segundo turno nas eleições. Caso o governo e a oposição cheguem a uma acordo no decorrer dos próximos dias, e se o presidente Chávez flexibilizar sua posição, as eleições venezuelanas poderiam ocorrer já em abril de 2003. Nesse caso, a crise política e institucional ficaria menos tensa, já que um dos pontos de pressão da oposição seria contemplado. Os oposicionistas que insistem na renúncia de Chávez, ou na convocação de eleições ainda no primeiro trimestre de 2003. No momento em que Garcia almoçava na residência da Embaixada do Brasil em Caracas, o embaixador Rui Nogueira recebeu um telefonema inesperado do presidente Chávez, que, depois de ter visto pela televisão algumas declarações do assessor de Lula, logo cedo, sobre o objetivo de sua viagem à Venezuela, pediu que Garcia se encontrasse com ele no Palácio de Miraflores antes da reunião com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), César Gaviria, prevista para as 14h30 (16h30 horário de Brasília). Ao sair do encontro com o presidente Chávez, em Miraflores, Garcia informou a jornalistas brasileiros que o presidente fizera um relato longo sobre a situação da Petróleos de Venezuela (PDVSA) e do transporte no país, que começa a ser prejudicado com a escassez de gasolina. "O presidente reconheceu que a situação é crítica. Perguntou ainda quais seriam as chances de o governo brasileiro enviar gasolina", comentou Garcia, entre o trajeto de Miraflores e o Hotel Meliá, onde estão concentradas as negociações entre a oposição e o governo, sempre sob a mediação de Gaviria. A proposta de Chávez permitiria ao Brasil explorar petróleo na Venezuela. Outra preocupação levantada por Chávez foi a carência de quadros profissionais e técnicos na PDVSA, prejudicada com a greve que já dura mais de 18 dias. Garcia disse que recebeu também um sinal verde do presidente Chávez para se reunir com representantes da oposição, embora não tenha sido esse o objetivo do assessor de Lula em sua viagem a Caracas. "Ele me disse que não haveria nenhum inconveniente. Pelo contrário, sugeriu que encontrasse outros dirigentes", explicou. A princípio, Garcia poderá se encontrar com Timóteo Zambrano, chefe da delegação dos grupos de oposição na mesa de negociações que vem sendo conduzida por Gaviria. Garcia esclareceu por diversas vezes que a sua missão em Caracas estava exclusivamente restrita a escutar e se informar sobre a situação política do país. "Não vim como negociador e não trouxe nenhuma proposta nesse sentido", afirmou o assessor especial de Lula a uma afoita imprensa venezuelana. O assessor de Lula relatou ainda, logo depois de seu encontro com o vice-presidente, José Vicente Rangel, e com o chanceler, Roy Chaderton, que o governo acredita que os interesses e os princípios políticos no país foram feridos em toda essa crise. "Eles partem do ponto de vista de que o país está pagando o preço por causa da destruição dos partidos políticos, pela qual os meios de comunicação tiveram grande parte da responsabilidade", disse.

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