Chávez pede que Brasil organize "grupo de amigos" da Venezuela

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Por Agencia Estado
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O presidente Hugo Chávez pediu que o Brasil liderasse a criação de "um grupo de amigos" da Venezuela, para ajudar o país a superar a crise política e institucional na qual mergulhou no início de dezembro. A idéia e os objetivos desse grupo, no entanto, ainda não foram muito bem explicados pelo governo venezuelano. O assessor de Assuntos Internacionais do Partido dos Trabalhadores (PT) e enviado especial do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a Caracas, Marco Aurélio Garcia, explicou que "o grupo de amigos" sugerido por Chávez não pode e nem deve se imiscuir no papel que vem desempenhando o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), César Gaviria, que já mediou cerca de 25 reuniões entre a oposição que quer derrubar Chávez e o governo venezuelano. Como a proposta não foi muito clara, mesmo depois de Garcia ter pedido maiores explicações, o ministro de Relações Exteriores, Roy Chaderton Matos, ficou de elaborar melhor a idéia antes de apresentá-la de forma oficial ao Brasil e a outros países, entre eles a França. De qualquer forma, Garcia disse que levará essa idéia a Lula. Garcia, que se encontrou ontem com Gaviria, explicou que o secretário-geral da OEA demonstrou certo pessimismo sobre o andamento das negociações. "Gaviria me relatou que houve alguma evolução real na mesa de discussões, mas ainda insuficiente para chegar a um acordo que permita uma saída democrática para o país", explicou. O assessor de Lula disse ainda que, dado o andamento da paralisação da PDVSA (Petróleos de Venezuela) e da posição irredutível adotada pelos principais dirigentes da companhia, Gaviria teme uma crise aguda de desabastecimento de combustíveis, o que pode levar a um desfecho grave, com saques ou até de convulsão social. Diante disso, a Venezuela pediu que o Brasil ampliasse, o mais rápido possível, o envio de gasolina para o país. O presidente Chávez solicitou ainda um petroleiro para transportar óleo cru venezuelano para refinarias próximas do país no Caribe, como Aruba, por exemplo. Pediu ainda o envio de especialistas para operar petroleiros venezuelanos que se encontram totalmente imobilizados na costa da Venezuela. Os pedidos foram feitos ontem pelo presidente Chávez durante um jantar no Palácio de Miraflores (sede do governo), do qual participaram ainda o embaixador do Brasil em Caracas, Ruy Nogueira, e o chanceler Roy Chaderton. Garcia informou que sua missão alcançou os objetivos previstos. "Vi com uma lente de aumento a situação venezuelana e consegui captar, com uma sutileza de detalhes, onde estão os problemas fundamentais dessa crise", afirmou. Ele disse, entretanto, que é necessário fazer uma análise "desindexada" da crise venezuelana. Isto é, explicou, é preciso desinflá-la, já que os problemas podem não ser tão catastróficos como parecem. O fato é que a escassez de gasolina começa a se agravar a cada dia. Nesta sexta-feira, o assessor de Lula se reuniu ainda com o presidente da Assembléia Nacional (Congresso), Willam Lara, que, no momento, vem também tentando desempenhar um papel conciliador entre a oposição e o governo. Lara deu a entender ainda que o presidente Chávez vem costurando nos bastidores uma negociação direta com alguns membros "menos radicais" da oposição. O próprio presidente confirmou que esses encontros vêm sendo realizados nos bastidores, porém não quis revelar nomes para evitar que esses interlocutores "sejam atacados" pelos líderes que decretaram a greve geral, em vigor há quase três semanas. Garcia informou também que o presidente Hugo Chávez poderá permanecer no Brasil até o dia seguinte da posse de Lula, com quem deverá tomar o café da manhã no dia 2 de janeiro, em Brasília.

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