Chávez rouba a cena na reunião de Quebec

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Por Agencia Estado
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Aconteceu durante a reunião dos presidentes dos países andinos com o presidente George W. Bush, no hotel Concorde, na tarde deste sábado. Convidado a participar, o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou atrasado, por causa dos distúrbios nas ruas. Bush fez questão de registrar a presença do líder brasileiro notando, diante dos outros presidentes, seus esforços junto ao presidente Jiang Zemin, da China, na semana passada, para libertar a tripulação do avião-espião americano que fez um pouso forçado depois de colidir com um jato de interceptação chinês. "Quero agradecer mais uma vez sua ajuda para libertar nossa tripulação", disse Bush, dirigindo-se a Fernando Henrique segundo um diplomata brasileiro. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que nada tem feito para ganhar a simpatia de Washington, não se conteve. "Se você tivesse falado comigo, já teria recebido de volta também o avião", disse ele a Bush. Já outros representantes do Brasil - os embaixadores Rubens Barbosa, Walter Pecli Moreira, José Botafogo Gonçalves, o assessor diplomático do Planalto, Eduardo Santos e o secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, Pedro Camargo Neto - haviam vivido de perto na noite da sexta-feira, com reflexos até a madrugada do sábado, as emoções dos conflitos entre a polícia e os manifestantes nas ruas de Québec. Bombas - Convencidos de que estava tudo em ordem no perímetro de segurança da conferência, saíram para jantar num restaurante próximo ao hotel Hilton, onde se hospedou a delegação brasileira à Cúpula das Américas. Mas, enquanto comiam, grupos de manifestantes voltaram a se aproximar da cerca de isolamento e a polícia reagiu atirando dezenas de bombas de gás lacrimogêneo, para afastá-los. O vento espalhou o gás pela região do Hilton. Depois de esperarem um pouco, os altos funcionários brasileiros decidiram caminhar de volta ao hotel, convencidos de que o ar já estava limpo. Não estava. Pouco depois de meia-noite, eles chegaram todos ao Hilton lacrimejando. "Esta reunião está emocionante", brincou Barbosa, o embaixador brasileiro nos EUA, que, a exemplo de seus companheiros de aventura, nunca haviam cheirado gás lacrimogêneo. Distúrbios "não me assustam", diz Fernando Henrique. O presidente brasileiro, que chegou pouco depois ao hotel, de um jantar com seus colegas do México, Argentina e Chile, mostrou-se imperturbável. "Essas coisas não me assustam, pois tenho experiência", disse ele. Fernando Henrique lembrou que estava em Paris, em maio de 1968, quando os estudantes da Sorbonne, onde dava um curso, transformaram o Quartier Latin no centro da rebelião mundial da juventude. Ele recordou também que viu de perto as confrontações daquele período em São Paulo. De volta de Paris, juntou-se aos estudantes que defenderam o antigo prédio da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), na rua Maria Antônia, onde era professor, na batalha que eles travaram com o Comando de Caça aos Comunistas e a polícia. "Queimaram todos os meus livros e papéis", contou ele. "Nos anos 50, participei de várias manifestações reprimidas pela polícia a cavalo".

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