Na véspera do maior movimento de protesto contra o governo já organizado na Venezuela, o presidente Hugo Chávez, em seu programa dominical de rádio e na emissora estatal de televisão, saudou o presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. "Saúdo o candidato à Presidência do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem estive esta semana. Saúdo o presidente Cardoso, saúdo o povo brasileiro e desejo o melhor para o Brasil, hoje, amanhã, sempre", disse Hugo Chávez, no início de seu pronunciamento. No programa ?Alô, Presidente?, Chávez disse que a integração entre Brasil e Venezuela foi um dos temas de seu encontro com Lula e considerou imprescindível a aproximação entre os dois países. Hugo Chávez citou o encontro de mais de quatro horas com Lula, na última sexta-feira, na residência oficial da presidência. Descontraído e sorridente, Chávez falou durante duas horas, ao vivo, do Arco de la Federación, sentado à uma mesa, ao ar livre. Intercalava o discurso com o atendimento por telefone de pessoas que usavam o sistema de ligação gratuita para conversar com Chávez. As ligaçoes, naturalmente, não são só elogiosas, mas de ataques indignados aos opositores. "Até quando, presidente, teremos que agüentar essas pessoas que vão à televisão falar contra o senhor?", pergunta, com voz sofredora, uma moça de 20 anos que ligava de um telefone público em frente a sua casa. Pouco antes, um homem chamado Jesús, de 57 anos, havia ligado para dizer que estava bravo com Chávez. "O senhor está muito condescendente com esta gente", protestou. O presidente assume o papel do conciliador: "É preciso ter tolerância, mas eu também me pergunto: até quando?" Chávez volta ao discurso que o movimento oposicionista não é do povo, mas das oliguarquias inconformadas por perder o poder de décadas. "Estas perguntas de vocês estão me preocupando", continua Chávez, que chama os interlocutores pelo nome, pergunta pela família e os trata como "irmãos". Educação Chávez estimula a conversa com aqueles que lhes telefonam, mas nem sempre ouve o que quer. À moça, chamada Maira, que cobrou reação aos opositores, o presidente perguntou: "Você estuda, não é verdade?". Resposta: "Não, presidente, por enquanto estou em casa." Para o presidente que prega a educação como o ponto de partida para a revolução e a justiça social, uma resposta desconcertante. "Mas é jovem, tem de estudar, Maira", continua Chávez. "Sim, sim, como não, presidente." E Chávez prossegue a coversa, com "a querida, a compatriota, a venezuelana Maira". Lê uma parte do editorial de ontem do jornal El Nacional, que comunica a adesão ao Paro Cívico de amanhã. "Uma saída seria que eu me reunisse com a oligarquia, tomasse uísque, e dissesse que eles venceram, que vou esquecer do povo, da revolução. Mas prefiro a morte a trair a ética e a esperança que está viva". Chávez diz ainda que, se quisesse, poderia ordenar ao Banco Nacional um crédito generoso a jornais como El Universal. "No dia seguinte, eu seria um grande governante." E insiste: "Maira, você tem de voltar a estudar, é nova. Vá, minha irmã, seja feliz, saudações à sua família." E passa ao próximo admirador.