Chavismo estabeleceu aliança estratégica Brasil-Venezuela

Desde que o bolivariano chegou ao poder, as exportações brasileiras foram de US$ 536 milhões para US$ 4,69 bilhões

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Por Denise Chrispim Marin , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Em 30 de setembro de 2005, em Brasília, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a mais inesperada declaração sobre o governo de Hugo Chávez. A Venezuela, segundo ele, tinha excesso de democracia. Chávez fora demonizado no Brasil e comera o pão que o diabo amassou nos seus quatro primeiros anos no poder, segundo o brasileiro. Lula dera essa declaração no Palácio do Planalto, logo depois de assinar o acordo de investimento conjunto, da PDVSA e da Petrobrás, na construção da refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco. O projeto binacional ainda patina, mas a frase do então presidente brasileiro deu o tom de como as relações entre os dois governos era próxima, apesar das críticas ao equilíbrio entre os poderes no país vizinho. Depois de eleito presidente, em 1998, Chávez fez ao Brasil sua primeira viagem ao exterior. Repetiu o gesto depois de empossado, em uma visita de Estado. O então presidente Fernando Henrique Cardoso estreitou laços, manteve contato cordial e até mesmo enviou um carregamento de gasolina para a Venezuela, em dezembro de 2002, quando Chávez enfrentava uma greve de petroleiros.No início do governo de Lula, o presidente brasileiro, mostrava-se pragmático quando o tema era a expansão das exportações do Brasil para a Venezuela. As exportações brasileiras para a Venezuela somavam apenas US$ 536,7 milhões no primeiro ano de mandato de Chávez. No ano em que Lula tomou posse, 2003, alcançaram US$ 608,2 milhões. Em seu último ano no governo, haviam saltado para US$ 3,854 bilhões, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Em 2011, subiram 19,1% e somaram US$ 4,592 bilhões. Em 2012, o recorde foi batido outra vez. Em novembro, as exportações já somavam US$ 4,695 bilhões. Parte desses embarques deveu-se a grande obras públicas tocadas por empreiteiras brasileiras na Venezuela. Nos encontros bilaterais, a cada semestre, executivos dessas empresas acomodavam-se nas antessalas à espera dos resultados e de momentos oportunos de contato. Chávez foi, de longe, o líder estrangeiro com o qual Lula mais se encontrou em seus dois mandatos. Conforme montou a aliança estratégica entre Brasil e Venezuela, estendida ao setor de energia, Lula tentou assumir a posição de moderador nas relações entre Chávez e os EUA. O brasileiro dava-se bem com o então presidente dos EUA, George W. Bush. Mas, em diversas ocasiões, as críticas de Lula aos EUA levaram o embaixador americano em Brasília a protestar.Em certa medida, Lula conseguiu conter os impulsos de Chávez, que poderiam desenganar os próprios projetos brasileiros de liderança sul-americana e seus interesses na região. A interferência de Chávez nas decisões de Evo Morales sobre a nacionalização do setor de petróleo e de gás, que culminaram na intervenção militar em uma refinaria da Petrobrás em Cochabamba, repercutiram mal em Brasília, assim como sua intromissão em questões relacionadas com a guerrilha colombiana. Lula conversou seriamente com Chávez sobre esses temas. Mas nunca o governo brasileiro criticou publicamente as ações de Chávez. O Palácio do Planalto, mais permeável ao discurso chavista, dava um tom de afinidade à relação entre os governo. No Itamaraty, a execução da política bilateral era um exercício obrigatório, mas conduzido a contragosto.A expectativa de uma adequação da relação Venezuela-Brasil no governo Dilma Rousseff, em especial na vertente Democracia e Direitos Humanos, desmontou-se logo no início de seu governo. A presidente manteve os encontros com Chávez. Mas foi além de Lula ao dar seu aval ao ingresso pleno da Venezuela no Mercosul, sem o voto do Paraguai e o cumprimento, por Caracas, de sua agenda de convergência para as regras do bloco de livre comércio e de união aduaneira. A iniciativa, segundo Dilma, teve "significado histórico".

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