Chavismo vence eleições para prefeito em 92% das cidades da Venezuela

Governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ganha em 308 municípios e poderá antecipar eleições presidenciais de 2018; oposição contesta validade da votação

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Atualização:

CARACAS - O governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta segunda-feira, 11, que venceu as eleições em 92% dos municípios do país. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano, 47,32% do eleitorado participou da votação realizada no domingo – boicotada por parte da oposição ao chavismo.

O presidente Nicolás Maduro vota, em Caracas Foto: AFP PHOTO Venezuelan Presidency

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Analistas políticos afirmam que, após ter anunciado o banimento das eleições presidenciais de 2018 dos partidos opositores que não participaram dos pleitos municipais, o próximo passo de Maduro deverá ser antecipar a votação para o Executivo federal, para se aproveitar da desarticulação entre os rivais. O pleito, previsto para o fim do ano que vem, poderia ser antecipado para o primeiro trimestre de 2018.

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“Maduro vai insistir na estratégia de adiantar o máximo possível a eleição presidencial, para evitar que a oposição se reagrupe”, disse o analista Eugenio Martínez. “Estimo que Maduro convocará uma eleição presidencial antecipada na primeira metade de 2018”, afirmou em um artigo publicado na sexta-feira Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade Católica Andrés Bello. 

Líderes opositores também desconfiam que Maduro antecipará o pleito para o Executivo federal no ano que vem. O presidente venezuelano já anunciou sua candidatura à reeleição e conclamou seus partidários a “preparar-se para grandes vitórias em 2018”.

“O que todos os venezuelanos sabem é que o que aconteceu ontem (no domingo) na Venezuela não foi uma eleição. Foi um evento nulo, organizado por um conselho eleitoral fraudulento e, além disso, com o território venezuelano completamente sob ocupação militar”, disse a opositora María Corina Machado, deputada cassada em 2014 pelo chavismo e líder do partido Vente Venezuela, cuja legenda já tinha se recusado a lançar candidatos para a eleição para governadores, realizada em outubro.

Nas eleições municipais, se recusaram a participar os partidos opositores Vontade Popular, de Leopoldo López, o Primeiro Justiça, de Henrique Capriles, e Ação Democrática, do ex-presidente do Parlamento Henry Ramos Allup.“É o momento para deixarmos nossos egos e nossas aspirações pessoais de lado”, disse o deputado opositor Juan Andrés Mejía, coordenador do Vontade Popular, chamando os partidos da oposição a se unir para “recuperara a democracia”.

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O ministro de Comunicação e Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, anunciou nesta segunda que o chavismo venceu as eleições municipais em 308 das 335 cidades do país – a oposição obteve vitória em 25 municípios, e candidatos independentes, em outros 2. 

“Trata-se da maior vitória que uma força política já recebeu na história da Venezuela. Obtivemos 71% dos votos totais. Conseguimos 6.517.606 votos para a Revolução Bolivariana, votos para o presidente Nicolás Maduro. A oposição somada toda (obteve) 2.749.000”, afirmou Rodríguez, anunciando que o chavismo venceu em 22 das 24 capitais venezuelanas.

“Não há surpresa, mas (o resultado) não reflete o mapa das preferências políticas na Venezuela”, afirmou o analista político Luis Vicente León, presidente do instituto de pesquisa política Datanálisis.

Uma sondagem publicada pela empresa Venebarómetro indicou que a popularidade de Maduro subiu de 24,4% a 31,1% – e a avaliação negativa da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática subiu de 46,1% para 65,7%.

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Foi disputada ainda uma eleição para governador, no Estado de Zulia, pois o opositor Juan Pablo Guanipa, eleito em outubro, rejeitou assumir o cargo diante da Assembleia Nacional Constituinte – para a qual os partidos políticos venezuelanos não foram autorizados a postular candidaturas – e foi destituído. O chavista Omar Prieto foi eleito em seu lugar, com 57,3% dos votos, segundo o governo venezuelano. A Constituinte, que tem plenos poderes no país, tomou posse em agosto, é composta unicamente por chavistas e não é reconhecida internacionalmente. 

Reações

O chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, qualificou nesta segunda como “absurdo” o fato de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ter afirmado que proibirá os partidos opositores que boicotaram as eleições municipais venezuelanas de lançar candidatos para disputar a presidência de seu país em 2018.

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“Vi com a preocupação a notícia de que o governo da Venezuela considera que, tendo alguns partidos se abstido das eleições municipais, eles não poderão se habilitar para o pleito presidencial. É realmente um absurdo”, tuitou o ministro brasileiro. De acordo com o tucano, a atitude de Maduro é “incompatível com o desejo de negociação que o governo (venezuelano) expôs quando convidou a oposição para conversar em Santo Domingo”.

“A tentativa de Maduro de banir os partidos de oposição nas eleições presidenciais é mais uma medida extrema para fechar o espaço democrático na Venezuela e consolidar o poder em sua ditadura autoritária”, declarou, também pelo Twitter, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert. “Apoiamos o povo venezuelano em sua tentativa de restabelecer sua democracia.” Caracas qualificou as declarações da americana como “ridículas”. / AFP e EFE