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Chavistas são escrachados no exterior

Venezuelanos que moram fora do país criam movimento para expor parentes de seguidores de Nicolás Maduro

Por Fabiola Zerpa , Nathan Crooks e BLOOMBERG
Atualização:

A fúria dos venezuelanos é global. Foi o que descobriu Roy Chaderton, membro do serviço diplomático do país, quando se viu debaixo de uma chuva de lixo nas ruas de Madri. O vídeo espalhou-se pelas redes sociais. Assim como as imagens protagonizadas por Eugenio Vasquez Orellana, presidente do Banco da Venezuela sob o falecido Hugo Chávez, fugindo de uma padaria em Miami sob os gritos de “cai fora!”. 

Expatriados também berraram “assassina” para Maripili Hernandez, ex-ministra de Chávez, em Barcelona, e perseguiram a filha do prefeito de Caracas, Jorge Rodriguez, na praia de Bondi, em Sydney. Todos os incidentes foram capturados por câmeras de smartphones.

Policiais antidistúrbio disparas gás lacrimogênio contra manifestantes em Caracas Foto: REUTERS/Carlos Barria

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Nesse caso, de pessoas ligadas ao governo do presidente Nicolás Maduro ou de seu predecessor e mentor, Hugo Chávez. Os venezuelanos que observam de longe enquanto sua terra natal é convulsionada por protestos diários — os quais já custaram pelo menos 61 vidas — estão usando essa tática para enfrentar a miséria do país, tomado por fome generalizada e criminalidade galopante depois de 18 anos de governo socialista. 

Os chavistas levaram o país a um colapso econômico sem precedentes na história moderna e muitas pessoas ligadas ao regime de Maduro foram acusadas pelos Estados Unidos de atividades criminosas, incluindo tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Os ativistas do escrache contam com um público entusiasmado no Twitter, Instagram e WhatsApp do mundo todo, como Nillson Castillo, advogado de 26 anos que, em setembro, trocou Caracas por Santiago do Chile. “Eu me sinto bem quando vejo pessoas apontando o dedo para aqueles que roubaram a Venezuela”, disse. “Quando bate um momento de dúvida ou culpa por ver alguém humilhado publicamente, logo me lembro da bagunça em que o país se encontra.”

Na Venezuela, as mídias sociais estão em chamas com posts e imagens marcados com #escrache. O embaixador venezuelano na Suíça sendo insultado em um supermercado. Um líder do Movimento da Quinta República de Chávez sendo contestado em uma conferência sobre direitos humanos no Líbano. Um mapa do Google que mostra onde os parentes dos membros do governo Maduro moram em todo o mundo circula a toda velocidade nas conversas pelas redes.

Exageros. É aí que o escrache fica controverso — quando toma por alvo pessoas que não têm relação com os chavistas, a não ser por sangue ou amizade. Freddy Guevara, legislador da oposição, já alertou contra esse tipo de desdobramento.

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“Isso vai criar polêmica, mas preciso deixar muito claro: não é correto nem moral acossar os filhos das autoridades”, disse ele no Twitter. Guevara fez o comentário depois da postagem de um vídeo com a filha do prefeito de Caracas, partidário de Maduro. No vídeo, uma mulher a persegue e grita: “Deve ser bom viver aqui, enquanto estão matando estudantes. Responda! As pessoas estão morrendo por causa do seu pai!”

Existem muitas críticas ao escrache em geral. Alguns detratores dizem que a prática não tem muito efeito, além de dar uma pequena satisfação às “pessoas que têm toda essa raiva no coração”, palavras de Alex Yllarramendy, engenheiro de som venezuelano que vive em Barcelona e critica regularmente o regime Maduro no Twitter. 

Ele disse que os expatriados deveriam gastar energia para registrar toda a opulência da vida dos chavistas no exterior e compartilhar as imagens com os adeptos de Maduro. “Essa mensagem seria mais eficaz.”

Acredita-se que autoridades venezuelanas e executivos de empresas com estreitos vínculos com o governo retiraram do país bilhões de dólares provenientes do boom do petróleo da década passada. Essa riqueza fica bem evidente nas mansões que eles possuem Miami e na Cidade do Panamá. 

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Outros métodos de protesto estão criando preocupações no exterior: no Panamá, o presidente Juan Carlos Valera ameaçou deportar venezuelanos depois que um grupo tentou invadir uma manifestação pró-Maduro na Universidade do Panamá.

A hashtag #escrache começou a aparecer no Twitter no fim do ano passado. Está sempre entre os trending topics, de acordo com a análise de uma lista de cerca de 30 mil termos rastreados pela Bloomberg. Chegou ao recorde histórico em 15 de maio, dia em que a oposição organizou protestos pacíficos por todo o país.

Nada disso passou despercebido a Maduro, que, discursando em 19 de maio, qualificou a estratégia como “degrau de uma escalada fascista” e declarou: “Somos os novos judeus do século 21”. 

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Para os venezuelanos que vivem longe de casa, as redes sociais são “um sonho que virou realidade”, afirmou Fernando Nunez-Noda, consultor de mídia social em Miami e ex-professor da Universidade Católica Andres Bello, em Caracas. “São plataformas em que se compartilham localizações, identificações, logísticas. Está mais difícil do que nunca para aqueles que querem se esconder.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU SÃO JORNALISTAS