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Chefe da máfia turca faz sucesso com vídeos em que acusa autoridades de corrupção

Os sete vídeos publicados por Sedat Peker, condenado por liderar uma organização criminosa na Turquia, tem mais de 50 milhões de visualizações

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Por Redação
Atualização:

ISTAMBUL - Quando Sedat Peker, um chefe da máfia turca condenado, começou a postar vídeos nas redes sociais no início deste mês em que fazia alegações não corroboradas de corrupção, assassinato e tráfico de drogas contra políticos importantes, milhões de turcos sintonizaram para assistir.

Os sete vídeos que Peker postou até agora foram vistos mais de 56 milhões de vezes no YouTube. Alguns turcos os veem como uma vergonha para o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, que governa a Turquia há quase duas décadas e se vangloria de seu sucesso em romper os laços entre o Estado e a máfia.

Canal de Peker no YouTube já tem mais de 50 milhões de visualizações; mafioso denuncia supostos crimes de autoridades turcas. Foto: Ozan Kose/ AFP

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O principal alvo dos monólogos de Peker é o ministro do Interior, Suleyman Soylu. O mafioso afirmou que o ministro garantiu proteção policial a ele quando deixou a prisão e o alertou sobre operações de repressão contra sua organização. Soylu rejeitou as acusações, chamando-as de "mentiras nojentas" e "complô contra o país".

As acusações, no entanto, resultaram em um pedido de renúncia do ministro, movido por partidos de oposição.

Além de negar as afirmações, Soylu entrou com uma ação criminal contra Peker e disse que as ofensas do mafioso ocorrem por causa de sua luta contra o crime organizado. Questionado em uma entrevista na televisão por que milhões de pessoas assistiram aos vídeos, Soylu respondeu que milhões também assistiam a pornografia infantil.

Outro alvo dos vídeos do mafioso é Erkam Yildrim, filho do ex-primeiro-ministro do país, Binali Yildrim, apontado por ele como líder de uma rede de narcotráfico colombiana.

Na quinta-feira, 27, o Ministério Público de Ancara emitiu um mandado de prisão contra Peker. O comunicado emitido pelo órgão, citado pela agência turca Anadolu, ordena a prisão do chefe da máfia por ser fugitivo da Justiça, sem detalhar as acusações que enfrenta.

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O presidente Recep Tayyip Erdogan comentou a questão na quarta-feira, 26, e demonstrou apoio a Soylu e Tildrim, dizendo ao parlamento que o governo estava perseguindo membros de gangues criminosas "não importa para onde no mundo eles corram". Erdogan prometeu capturar Peker e trazê-lo a Turquia.

Reações ao 'vlog'

Para o jornalista investigativo Gokcer Tahincioglu, os vídeos de Peker parecem "reportagens ao vivo de dentro da gangue" e devem ser levados a sério. "Há um confessor que não é anônimo e quer falar por conta própria. Por que ele não deveria ser ouvido? Ele deve ser ouvido", disse.

O número de visualizações mostra como o público turco está antenado às declarações do mafioso. O especialista em marketing digital Can Gumusbas disse acompanhar os vídeos de Peker em seu laptop em casa. O jovem de 27 anos acredita que uma investigação sobre as denúncias deveria ser aberta pelo ministério público. "Se nada for feito, a ideia de a Turquia ser um Estado democrático de direito se tornará absurda", disse ele.

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Alara, uma especialista em relações públicas que se recusou a fornecer seu sobrenome, também está colada à tela do computador. Como muitos espectadores, ela questionou a veracidade das alegações de Peker, mas disse que uma das razões para o fascínio das pessoas era que os vídeos contornavam a mídia tradicional na Turquia, grande parte da qual é controlada pelo Estado.

"Isso reflete os tempos em que estamos, porque você tem um chefe da máfia que está transmitindo ao vivo ... e ele pode falar sobre várias coisas, seus próprios tópicos, sem quaisquer filtros", disse Alara, também de 27 anos.

Galip Dalay, membro da Robert Bosch Academy em Berlim, disse que as acusações podem dificultar a vida de Erdogan, que depende de membros do gabinete como Soylu para conseguir apoio entre aliados nacionalistas no parlamento. Remover Soylu pode prejudicar a base política do presidente, disse Dalay, ao passo que deixá-lo no cargo pode ser visto como um sinal de fraqueza. "Nenhuma das opções de Erdogan é fácil."/ REUTERS E EFE

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