DALLAS, EUA - Ele estava magoado e contido. Em entrevista, falou sobre a crise que a polícia atravessa, sua experiência como negro no Texas, sobre armas e sobre o que o mantém seguindo em frente – “a graça e a ajuda de Deus”.
Com a nação aturdida pelo ataque que matou cinco policiais no centro de Dallas, horas depois da morte de dois negros nas mãos da polícia na Louisiana e em Minnesota.
Indagado sobre como fechar a fenda entre as duas fraternidades a que pertencia – negros e policiais –, o chefe David Brown respondeu: “Sou negro há muito tempo, por isso não há para mim uma grande separação”.
Aos que protestavam nas ruas, ele sugeriu canalizar as frustrações dedicando-se ao serviço público. “Deixem o protesto. Vamos aproveitar vocês em seus bairros e ajudá-los a resolver alguns dos problemas contra os quais se insurgem.”
Sobre as cobranças que caem nos ombros dos policiais, ele disse: “Achamos que a polícia tem de resolver todas as falhas da sociedade. Se faltar dinheiro para cuidar de doentes mentais, a polícia que resolva. Se não houver verba para o combate às drogas, a polícia que dê um jeito. Aqui em Dallas temos um problema com vira-latas? Os policiais que cacem os cães de rua. Repetência escolar? É com a polícia. Acontece que a polícia não feita para cuidar de todos esses problemas.”
Aos 55 anos, Brown é um dos 20 negros entre os 68 membros da Associação dos Chefes das Grandes Cidades. Na entrevista de segunda-feira, ele assinalou o sucesso do modelo de “policiamento comunitário” no qual ele se empenha e lhe deu reputação nacional de reformista focado em reduzir as tensões entre a polícia e minorias.
Desde o início de seu mandato como chefe, a vida privada de Brown parece destinada a se mesclar com sua função pública. Em 2010, seu filho de 27 anos, viciado em drogas, matou a tiros um policial e um outro homem antes de ser morto, num confronto com a polícia.
“Não apenas minha família perdeu um filho: um colega policial e um cidadão perderam a vida nas mãos dele”, disse Brown na ocasião. “Isso fere tanto que não consigo expressar adequadamente a tristeza que tenho no coração.” Ele falou sobre como a tragédia da epidemia de crack influenciou sua decisão de se tornar policial. “Antigos amigos meus se envolveram com a droga... e decidi fazer algo sobre o que via em minha vizinhança.”
Brown disse que ele e a família vêm sofrendo ameaças depois do tiroteio da semana passada. Lamentou o baixo salário inicial dos policiais e disse estar preocupado com a saúde mental deles. “Queremos ser super-homens e supermulheres e não somos – somos os últimos a admitir que precisamos de ajuda”, afirmou. / NYT